Quirino e Matias eram vizinhos junto ao Morro do Cruzeiro. Apesar de um ser padrinho do filho do outro, estavam sem se falar um bocado de tempo. Tudo por causa de um bode grande e magro que apareceu vagueando nas vizinhanças das terras deles. Cada um que dissesse que o bode era dele. O certo é que nenhum dos dois tinha certeza da propriedade do barbudo chifrudo.
E a arenga foi crescendo, até que num sábado, bem no meio da feira, se esbarraram entre as barracas e, ninguém sabe como, o pau comeu no centro. E tome tabefe, bolacha, tapa, cocorote, rasteira, porrada no pé do ouvido, era um agarra-agarra, era um lá vai e lá vem, e derruba barraca de feijão verde, é queijo de coalho se espragatando no chão, é as fuleragens da barraca de mangaio rolando de feira abaixo e o pau comendo. Quando os dois viram que com as mãos não ganhava a briga do outro, partiram pro tudo ou nada. Um puxou seu Hismiti & Uerson e o outro puxou seu Kolti, ambos calibre 44, fabricação legítima de Campina Grande e, tome bala.
Foi o maior tirinete de bala que Carnaúba dos Dantas assistiu em toda sua história.
Pra encurtar o trololó, os dois continuam sem se falar apesar de não brigarem mais, a pedido dos afilhados. Além disso, todo ano a discussão dos dois é grande na Sapataria Gomes, quando vão escolher o par de calçado pra festa da padroeira, já que naquele dia fatídico Matias perdeu a perna esquerda e Quirino o pé direito.
Tadeu Neri