Manoel Procópio de Moura Júnior
O Grande Ponto é a denominação de uma parte no centro da cidade, localizada na Rua João Pessoa, precisamente entre a Av. Rio Branco e a Rua Princesa Isabel.
Em 1845, a atual rua João Pessoa era uma pequena artéria compreendida entre a rua Vaz Gondim e a Av. Rio Branco. O Presidente Sarmento (Casimiro de Morais Sarmento) determinou a ampliação da atual rua João Pessoa, derrubando a mata existente até a rua Princesa Isabel. Após esta derrubada, a atual Princesa Isabel passou a chamar-se Rua dos Tocos, enquanto a parte ampliada da atual rua João Pessoa, passava a se chamar Rua Sarmento.
Anos depois, quando a Rua Sarmento já atingia a atual Av. Deodoro, recebeu, em 13 de fevereiro de 1888, a denominação Rua Visconde de Inhomerim (Francisco Sales Torres Homem). Este nome se conservou até o início de Século XX, quando passou a chamar-se Rua Coronel Pedro Soares, para finalmente, já na década de 1930, chamar-se Rua João Pessoa.
O espaço da Rua João Pessoa, compreendido entre a Rua Princesa Isabel e a Av. Rio Branco, ficou conhecido como Grande Ponto, em razão de um Café, com este nome, localizado na esquina da Av. Rio Branco com a João Pessoa, onde hoje está localizado o Edifício Amaro Mesquita.
Era um ponto de encontro dos habitantes da cidade do Natal. Nesta “Universidade” popular, reuniam-se intelectuais, esportistas, políticos, jornalistas, estudantes e um sem número de prisiacas. Era uma fonte inesgotável de comentários, boatos e muita conversa fiada que invadiam a nossa pequena Natal.
Anos depois, a denominação Grande Ponto atingiu toda a extensão da rua João Pessoa. Entretanto, os seus freqüentadores, vestindo camisa sileque (slack), concentravam-se no espaço delimitado pela rua João Pessoa com a rua Princesa Isabel.
Neste ponto, além das prosas e chorumelas dos seus “habituês”, algumas casas comerciais se destacavam como a Confeitaria Helvética e o Bar e Confeitaria Cisne, ambas de Múcio Miranda, com seus garçons Enedino e Zé Américo; o Foto Grevy, de Grevy Germano, depois Real Foto, de Valdemir Germano; o Café Maia, de Rossini Azevedo e a Sorveteria Cruzeiro, de “Seu China”.
No outro lado da rua, estava situado “O Botijinha”, lanchonete sem porta e sem tranca, de Jardelino Lucena, com a Sede do Santa Cruz F.C. no andar superior; a “Casa Vesúvio”, de Francisco Maiorana; a “Loja Seta”, de Nevaldo Rocha; o Caldo de Cana do Raimundo e; a “Casa São Geraldo”, de Dona Dolores, além do “Portão Brasil”, local onde Alcino Augusto Guedes gravava em metais, instantes já esquecidos pela inconstância das almas.
Falar no Grande Ponto é relembrar as festas folclóricas promovidas por Djalma Maranhão, humanista que marcou um “grande ponto” na administração de Natal. É lembrar, também, as ameias de observações localizadas no Acácia Bar, na Confeitaria de Aracati, no restaurante Dois Irmãos e no Natal Clube. É lembrar um tempo de tranqüilidade, onde a maior ameaça era o boato.
Lamentamos que o Grande Ponto tenha seguido a mesma destinação dos bondes, cujos trilhos riscavam seu chão. Foi desaparecendo com o tempo, devagar, devagar, até que, sem que ninguém percebesse, encantou-se.
No Grande Ponto, todos os problemas eram resolvidos. Lá, seus assíduos freqüentadores solucionavam suas quizilas. Alguns, já “libertados pela lei da morte”, outros, por pirraça, continuam marcando presença, buscando nos labirintos das lembranças, os bons momentos vividos na Rua João Pessoa, bem ali... no Grande Ponto.