porque sou do deserto e ele me chama
(bem sei: prefiro à luz, a vaga bruma)
escondo-me entre a onda e a espuma
de quem não sabe ainda se me ama.
hesito entre partir na tarde ausente
do azul que tanto amo e se desfaz
(negrume de organdi que a noite traz)
: persisto nesta busca improcedente?
pois tu, tu não virás, bem sei agora
(fantasmas te povoam peito e mãos)
e em sendo vã a espera, o que esperar?
escuso-me ao crepúsculo e à aurora.
depois, por ser deserto, abraço o mar
que sei me há de acolher em seus desvãos.
Márcia Maia