domingo, fevereiro 13, 2005

O Clube, o Treze e o Galo

Marcelo Barroso TN

No tempo em que o Bar Cisne atuava na João Pessoa, no andar térreo do Edifício Amaro Mesquita, seu dono costumava, na sexta-feira à noite ou no sábado pela manhã, às vezes à tarde, colocar algumas cadeiras na calçada, para deleite dos freqüentadores. Aquele Bar Cisne, localizado bem no coração do Grande Ponto, concentração de políticos, advogados, intelectuais e desocupados, celebrizou-se por três coisas: a incorrigível fedentina do seu sanitário; o fanatismo getulista do garçom, José Américo (agravado pelo peleguismo da sua jangolotria) e; por um joguinho de bozó chamado “melé na mesa”, pelo qual o professor William Aires tornou-se o campeão dos perdedores.
Numa dessas belas tardes festivas, reunidos ali em uma cervejada, Cascudo, Saturnino, Severino Nunes e eu, depois de simbolicamente ouvirmos “o canto do galo”, que ainda ressoava nas páginas da história, discutimos informalmente a possibilidade de mandarmos cunhar uma medalha de ouro com o número 13 encimado por um galo e que essa medalha servisse de insígnia aos “iniciados”, devendo ser usada na lapela. Até então, o Clube contava apenas com 13 associados e o emblema se ajustava bem à tradição galinácea ligada à medicina, à vigilância e à roleta ou ao jogo de sorte. Treze era o número ideal: galo, o símbolo adequado.
Todavia, a idéia morreu no nascedouro, permaneceu na sugestão e não passou da calçada do Bar Cisne. O Clube aumentou o número, pois sempre que um morria ou outro se mudava, podíamos colocar um terceiro em seu lugar, sem, contudo, o substituir. Inocente era rei-vassalo enquanto “bem servisse”. E por esse tempo, só dois haviam morrido: Milton Cavalcanti e Djalma Santos.
O número 13 também possui a riqueza de sua representação na formação dos algarismos. Treze pessoas sentaram-se para celebrar a última ceia: Jesus e os 12 apóstolos. Em Londres, havia o Clube dos Treze, um sodalício fundado para combater a superstição. Uma das curiosidades mais interessantes sobre o número 13 ocorre no livro de Brawn, um matemático inglês, o qual chegou à conclusão de que, de 4 em 4 séculos, o dia 13 cai no domingo 687 vezes. Na segunda, 685. Na terça, igualmente, 685. Na quarta, 687. Na quinta, 684. Na sexta, 688. E, no sábado, 685.
Como se vê do paciente calculista britânico, o número 13 ocorre mais vezes na sexta-feira, o que tem gerado muita superstição. Escreve Melo e Souza, no Folclore da Matemática, que na antiga Constituição do Estado do Espírito Santo, não constava o artigo 13; os legisladores capixabas, supersticiosamente, suprimiram-no. Também assim já é demais.
De qualquer modo, o galo e o número 13 bateram asas, voaram do Clube dos Inocentes. E o número fixou-se em 14, depois da morte dos dois primeiros sócios. O aleijadinho, no seu “atelier da Renascença”, nas palavras de Mário de Andrade, fugindo ao número 13, idealizou, na sua maravilhosa imaginação, uma Ceia Larga com 14 participantes: Jesus, os 12 apóstolos e um soldado romano que aparece como penetra e participa da eulogia. Nosso ágape contou-se com os 14 convidados.
Ficamos por aqui, ruminado o bocado de saudade dessa memorável agremiação, que nunca mais se reuniu e permanece em fase de extinção. Seus melhores animadores já partiram para o Oriente Eterno: Milton, Djalma, Saturnino, Cascudo, João Medeiros, Ascendino. Em Natal, restam pouquíssimo: Gorgônio Regalado, Severino Nunes, José Leiros, Reginaldo Medeiros, Eulício Farias, Diógenes da Cunha Lima, Arnaldo Azevedo (meu melhor amigo, levei-o para o Clube – faleceu inesperadamente no dia 18 de setembro de 1991) e o autor destas memórias.
Feliciano mudou-se para o Sul do país. Renato voltou às suas atividades, no seu estado de São Paulo; aquele capitão-de-mar-guerra (um dos convidados de Saturnino a participar ativamente de algumas reuniões nossas – nem sei o nome) perdeu-se nas vastidões talássicas – mare proluit omnia – benedicite, e não sei se sabe se foi abençoado, pois nunca mais nos deu notícia da benedictio patrui... ad ostentationem nostram. Vale, aqui, o prazer ou a alegria de recordar aqueles tempos felizes, na conformidade da Eneida: meminisse juvabit... melioribus annis.


In Clube dos Inocente,
José Melquíades
Centro Senai de Artes Gráficas “Henrique D’Ávila Bertaso”
Porto Alegre/RS, 1992.

por Alma do Beco | 9:20 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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