quinta-feira, fevereiro 10, 2005

Hoje não se vê mais os campeões de sinuca



Ali, no “Grande Ponto”, há 28 anos, bem em frente ao Cinema Nordeste, onde hoje se ergue o vistoso edifício 21 de Março, existia o Salão Imperador, cujo proprietário era o sr. Severino Francisco. Naquela casa de bilhar, a qualquer hora, encontravam-se os melhores jogadores de sinuca da cidade.

O famoso “Cream Cracker” se destacava dos demais, porque era, realmente, um exímio jogador. Paulo, Dionísio e Quinquim, da Farmácia Barbosa, notabilíssimos! Wilson (meu irmão), funcionário da Sunab, era extraordinário. Varela, ex-jogador do Santa Cruz F.C., era um taco respeitado. Chico Lampréia, Jairo e Jair, ótimos jogadores. E tantos outros, dignos de nota, que me escapam à memória.

Além destes, havia outros com um padrão de jogo inferior. O popular “Liliu”, torcedor nº 1 do América, com suas ficadas estabelecia uma tabela a todos, desafiando-os: Mínima, CR$ 50,00; máxima, CR$ 500,00. O Salão ficava apinhado de “perus”. “Mainha” e “Paraense”, aquele da polícia, eram bons jogadores. Gregório jogava com muita segurança. “Jacaré”, este, nunca o vi jogar. Aderbal Machado, funcionário dos Correios. Foi meu discípulo, encaçapava muito bem.

Aguinaldo, que trabalhava na Casa Rubi, não jogava para a assistência ver, isto é, não fazia fita. Silvério e Nilton, com um jogo seguro e bonito. Raimundo, que trabalhava na padaria ABC, na rua Santo Antônio, numa parceirada, geralmente composta de Aderbal, Aguinaldo e eu, quando fazia uma jogada ruim, culpava o taco. Chico Barbeiro, figura assídua àquela casa de jogo, e considerado o maior pexote, muitas vezes, jogando com os campeões, saía vitorioso. Maurício, funcionário do Correios, por sinal meu amigo, também pexote, certa vez, jogando comigo, dando-lhe 20 pontos, encaçapou a bola 4, que era da vez, depois, a 5, a 6 e a 7, fazendo uma “limpeza geral” na sinuca. Tratava-se de uma “negra”. Fazia 40 minutos que jogávamos. Resultado: tive que pagar CR$ 12,00 de tempo. Quando me dirigia à taqueira, ouvi dele, estas palavras: “Viu, como se joga!” Disse-lhe um “até logo”, e desci a Rua Gonçalves Ledo, onde morava, dizendo, comigo mesmo: acolá só dá gente cabreira...

Entre os melhores jogadores, convém salientar o seguinte: Uma partida, quando era disputada com 3 bolas vermelhas, geralmente tinha a duração de 5 minutos. Às vezes, um dos jogadores não fazia uma jogada sequer; ficava unicamente, a assistir às de seu competidor, que iniciava e finalizava a partida de maneira ininterrupta, rápida e impressionante.

Eram, sem dúvida, naquela época, autênticos jogadores de sinuca.

Natércio Gomes da Costa, pesquisador e funcionário aposentado da UFRN

por Alma do Beco | 9:27 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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