Anjo de face serena, sem contornos, sem riscos
Infinita em beleza
Como uma imagem em espelho d'água
Que com olhos semi-cerrados em melodioso acalanto
Ofusca-me a retina com terna luz de feitiço e encanto
Cada lote de tua face em mim penetra
Tua fronte, de onde brota o orvalho quente
O excreta sagrado, salgado
De entrega no sol ardente
De todos os meus dias
E tua boca, que na oração ao sol nada fala
Tudo fala
Quando cala, nunca cala
Verbaliza em saliva, sussuros e gemidos
A eterna, real e imaginativa
Esperança
Abençoado o meio-dia de todos os teu dias
Que todos os teus dias
Sejam meus
Pois os meus, há muito converteram-se em teus
Anjo-profeta, receptáculo dos misteriosos sinais
Das visões de pueris letras no amarelado papel
À paralisante luz vermelha na esquina da moribunda vida
Dos sonhos em tenra idade sonhados
Ao rosto maduro estampado n'uma folha de jornal
Do pacto de abreviar a vida
À promessa de eterna vida
Por todos signos reunidos à tua mesa
E em nome da tua fé, entrego-me a ti
Atendo humilde à urgência do teu chamado
Enlevada escalo teu colo
E num etéreo abraço de pernas
Chego às suas asas, meu anjo
E vôo contigo
Para nunca àquela morta sina, voltar...
Meire
27/11/2003