Manuel de Azevedo – Músico e poeta
Estreito é o teu laço carinhoso, carismático e diplomático para com teu povo. Abraças a todos a um só tempo, sem distinção alguma. Convivem fraternalmente em tua senda letrados e analfabetos, empregados e patrões, poetas e políticos, músicos e musas, desempregados e bêbados, translúcidos e tresloucados, quengas e pais-de-santo.
Bunker etílico-eclético, insistindo bravamente em abrigar bares, botecos, biroscas, barbearia, biscaiteiros, ambulantes, livraria, perfumaria, sebo, partido político, relojoeiro, os reis do baralho no pano verde por trás dos biombos e da fumaça, os umbandistas que defumam o Beco sob a proteção dos orixás, enquanto o peixeiro ambulante deixa para trás o odor das marés e um magote de gatos e cães que reviram latas para depois lamberem a existência vadia.
A boemia sublimando a cachaça. A síncope e a contramão dos papudinhos ..."me lembrou Carlitos"..., e o contratempo da existência mecânica que um relojoeiro em tua esquina teima em consertar.
O eco das loas, das récitas ao balcão, do violão e das serestas, é nostalgia condensada que paira na embriagante atmosfera desse Beco de arquitetura pequena. Grande é a saudade de Nazi e sua obra-prima – a meladinha, do tempo de Natal pequenina de ruas estreitas repletas de calor humano.
O Beco da Lama ainda é seu mais fiel representante dessas eras.
O Beco da Lama é fonte poética em que bebo avidamente versos até que o tempo me envolva em brumas que se dissiparão nas chuvas do caju que me trouxe à cachaça, que me levou ao Beco, que me lavou o bico seco com meladinha, que me levará à tardinha à Pedra do Rosário, para somente retornar quando a ribalta do Beco estiver montada para receber seus mais respeitados e fieis protagonistas.
"...Glória à cachaça"... Salve, Salve, Beco da Lama!!!