quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Arisia a tempos eros

Acervo: Gutemberg Costa

13 de março de 1996, véspera de Dia da Poesia que, com o apoio da Capitania das Artes, prometia ser dos melhores. Logo cedo, encartado ao Diário de Natal, circulara o DN Verso X Versos que já trazia a marca da festa: excitamento muito de vates e amantes da poesia.
Durante toda a noite, no salão de exposições da “Hereditária”, a galera trabalhara as exposições e faixas que serviriam para a passeata poética do dia seguinte. No Meia Meia Quatro, à noite, comandados pelo performancer Pedro Pereira, ensaiara-se uma grafitagem geral nas paredes do decadente pointe etílico, reduto da mais renitente das boemias natalenses.
Nas paredes do pátio interno da Capitania, o artista plástico e band leader, Marcelus Bob, preparara um afresco tendo como tema os seus “encapuzados”, marca característica de suas intervenções em muros da cidade, e, cansado, amanheceu a sono solto, deitado no chão frio do salão de exposições, tendo como travesseiro uma fedorenta mochila gentilmente cedida por dirigente de conhecida agremiação beneficente cearamirinense, Fábio de Ojuara.
Ojuara fora o responsável pela pintura das faixas e, como Bob, também estava num prego danado, uma fome dos seiscentos diabos, louco que o sino da velha catedral batesse as oito badaladas que anunciariam a abertura das festividades com o esperado café da manhã, milimetricamente planejado pela agitadora cultural Danielle Brito.
Logo após o café, estava programado, haveria a abertura das exposições e o convidado especial, Jommard Muniz de Britto, dentro do “Projeto Falas”, discorreria sobre “Poesia: a que será que se destina”.
Tudo dentro dos conformes, num dos cantos do salão de exposições, no chão, as faixas preparadas à noite esperavam a hora da anunciada passeata poética. Quando menos se espera, sorridente, bem humorada, adentra o salão a ex-prefeita Vilma de Farias, iniciando suas visitas de pré-candidata à nova candidatura à Prefeitura Municipal de Natal.
Assistindo à cena, Eduardo Alexandre, que comandava computador ali instalado para receber poemas que seriam destinados à exposição da Galeria do Povo, dirige-se à ex-prefeita, agradece, em nome dos artistas, a construção daquele espaço destinado às artes potiguares, quando Ayres Marques, responsável maior por toda aquela festa, tem a boa idéia de registrar o acontecimento.
- Podemos bater uma foto, dona Vilma?
Solícita, a pré-candidata não colocou obstáculos:
- Pois não! É um prazer...
- Pode ser com uma das faixas que servirão à passeata?
- Claro. Nenhum problema. Diz a ex-prefeita, toda sorrisos.
Eduardo dirige-se ao canto onde estavam expostas as faixas e logo está de volta com uma que saudava conhecida figura folclórica da cidade e que serviria para abrir a passeata: “Viva Severina / Viva a rainha / Nossa governadora”.
Eduardo foi chegando e posicionando-se para a foto quando, curiosa, Vilma quis ver o que a faixa dizia. Quando leu o que estava posto, esquivou-se, depressa, da mira do fotógrafo:
- Não! Com essa faixa eu não permito a foto. E saiu, em disparada, driblando transeuntes.
- Mas prefeita, é só uma brincadeira... Insistiu Eduardo.
- Brincadeira, nada! Com essa faixa, vocês ficam sem foto. Eu é que não vou posar diante de tais ditos. Isso pode ser usado contra a minha candidatura...
Educado, Ayres mostra-se tolerante:
- Pode ser com outra, prefeita?
- Claro!
E nova faixa é providenciada para a foto: “No reino da arisia / tempo eros / Não sou mais de cetim”. Versos de Celso da Silveira, Diógenes da Cunha Lima e Marise Castro, respectivamente.

por Alma do Beco | 7:47 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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