Encapuzado, Marcelus Bob
Que linda manhã parnasiana...
Que vontade de escrever versos metrificados
Contadinhos nos dedos...
Chamar de reserva todas as rimas
Em - or - para rimar com amor...
Todas as rimas em - ade - pra rimar com saudade...
Todas as rimas em - uz - pra rimar com Jesus, cruz, luz...
Enfeitar de flores de afeto um soneto ajustadinho
Todo trancado na sua chave de ouro...
Remexo os velhos livros...
“Ah! que saudades eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida...”
Zim... (ligaram um dínamo de milhares de cavalos
E as polias giram e as máquinas abafam o último verso da quadrinha...)
E lá me vem à mente o ritmo dos teares...
As grandes rimas dos padrões...
Os fios se cruzam... se unem pras grandes peças de linho...
- Óleos... fios... polcas... alavancas,
Apitos. Ponteadores. Carrités.
Zim traco! traco! traco! Malhos. Alicates. Ar comprimido.
Fuco! fuco! dos foles
Marcação de fardo pra exportação: marca M.B.C. - Fortaleza - M.F.M. - Mossoró - setas e contra marca -
Trepidação de decoviles.
“Ah! que saudades eu tenho.”
E me abafa o segundo verso de Casemiro
Um caminhão cheio de soldados que segue para o interior
A caçar bandidos.
Que linda manhã parnasiana!
Vou recitar “A vingança da porta”.
Os lindos e sangrentos versos do meu passado:
- “Era um hábito antigo que ele tinha..”
Pregões de gazeteiros: - Raide de San-Roman! Ribeiro de Barros
O grande momento da aviação mundial!
- Que poema forte o de San-Roman!
- Que poema batuta o de Ribeiro de Barros!
Todo misturado de nuvens, de óleo, gasolina,
De graxa, de gritos de bravos! de emoções!
Dem! dem! dem!: - o auto-socorro -
- Quem vem ali?
Um operário que quebrou uma perna de uma grande altura.
- Viva o grande operário! - Viva o grande herói do dia!
- Vivôôôôô!...
JORGE FERNANDES
LIVRO DE POEMAS - 1927