Amélia Freire
Era Sábado. Era dia. Havia sol e calor, e brisa, e poesia, e música e muita, muita gente boa. Eduardo Alexandre (Dunga) o poeta e animador, suado, suando, transpirava exalando no corpo e no jeito a nossa arte de fazer Arte. Civone, poeta e atriz, um sorriso contagiante conduzia-nos como quem leva para o desconhecido prazer de se ver, a si e ao outro, num enlace de entrelaces. Nos vimos. Nos vimos no Beco, na lama sem odor. Sentíamos, até, um cheiro de nova brisa, ventos, nova aurora. Contagiou-nos cada passo, toda a descoberta. Os olhos do Beco. Os olhos de Ceiça reluzia a cor e o gosto de tudo ali. Para surpresa, entre tudo, as pernas de Paulo Augusto surgiram como uma beleza a mais. Não sei se eles sabem, não sei se os Amigos do Beco da Lama perceberam. Eles desnudaram numa tarde o que quase tarde não percebíamos. A gastronomia, o sabor, o aroma, o zelo, o talento, o cuidado. Tudo, ali, tocava-nos como único, especial. Os artistas do Beco, A SAMBA quase sem querer fizeram o roteiro gastronômico/cultural/turístico do Natal levando aos que participaram do evento “Vem até quem já morreu” no dia 01 de novembro a conhecer-nos como que refletidos num espelho. Aqui, deste lugar, espaço de Instituição governamental e de promoção cultural não podia ver de outro modo. Não podia ser banal. Não podia ser estanque. Não podia ser isolado. Haveria de transmitir minha impressão e traduzir com o objetivo de redizer a nossa cultura, tradição, costumes e as boas iniciativas representativas. Advertiu-me o senso que o nosso papel é possivelmente, e tão somente, de tornar-se ponte, elo, ligação. Articular-se em multifaces Governo/Sociedade Civil Organizada/Povo e todos atores neste palco sem fim, efetivados num pacto de real inclusão e sobrevivência. Havia poesia na Buchada com uma “branquinha” - pedida instintivamente como quem necessita de complemento - havia um toque a mais na Rabada apresentada com esmero no Bar da Amizade, a Dobradinha, o Caldo de Feijão, a Galinha à Cabidela, A Fava de Nazaré, palpitou um sabor do sertão até no mais estrangeiro desavisado. O Arrumadinho tinha um aroma sedutor. A paçoca, o Peixe no coco, o Carneiro e a Carne de Sol selaram um roteiro aprazível e saboroso. Geraldinho Carvalho, Pedrinho Mendes, Donizete Lima, Jailton e muitos outros como representação de nossa melhor música. Plínio Sanderson um brinde poético, misturado a Galeria do Povo, a exposição de Newton Navarro – Vivo , entre Pedro Pereira, Marcelo Fernandes, Marcelus Bob, Assis Marinho, Gilson Nascimento e todos, todos aglomerados nas mesas, cadeiras, tamboretes num corredor de expressão singular. É o Centro da Cultura do Natal, o Beco. Haveremos de reeditar, reviver, recriar como quem vislumbra o ontem no hoje – um presente – do amanhã.
Coordenadora do Centro de Promoções Culturais da Fundação José Augusto, e membro do Instituto Maria Maria/IMMEC.
ameliafreire@hotmail.com