segunda-feira, outubro 10, 2005

ORAÇÃO

Marcus Ottoni


Não há nada mais gostoso,
numa fria madrugada,
nem ninho mais carinhoso,
que os braços da minha amada...

Bob Motta

A PARTIR DE 15 DE OUTUBRO, MARIA BOA NO BECO DA LAMA

Bar da Amizade, Bar de Aluízio, Bar de Zé Reeira, Bardallo's Comida e Arte, Bar de Nazaré, Bar de Seu Pedrinho, Bar de Mãinha, Bar de Francinete, Bar de Odete, Bar de Chico, Bar da Meladinha


“Meus princípios não mudaram, mas eu vou votar contra os meus princípios para preservar meus princípios.”
João Ubaldo Ribeiro, declarando seu voto no referendo: “Para votar SIM, vote NÃO.”


Alexandro Gurgel

Aldeia Pau Seco, de índios potiguares, em Cobaoba, distante uma légua do Forte dos Reis Magos.


FAÇA ASSIM:

bem antes de eu chegar, enxugue a sala:
só quadros, o tapete e as almofadas,
as flores renovadas
e um pouco de saudade.

e finja, à minha chegada, ar de surpresa.
me envolva, desde a porta, em seu abraço,
perceba o meu cansaço,
embora eu não esteja.

me leve para perto da sacada.
desligue o spot próximo à janela
e à mínima candela,
só brilhe a sua mirada.

e deixe umas canções no ambiente.
uns discos de vinil, balde de gelo...
alise o tornozelo
sentando displicente.

por fundo, os bolerinhos da Batanga,
ao chão, inda espalhados, meus sonetos,
e o seu tubinho preto
da cor da sua tanga.

me beije, de repente, sem aviso,
e dê para o meu beijo o seu pescoço...
na voz em tom de esforço,
me diz "eu te preciso..."

me engane ao dizer que eu sou o máximo,
acenda a meia-luz, apague a roupa,
arranhe as minhas coxas
e diz que eu sou seu macho.

e sente no meu colo, assim, no meio...
pergunte qualquer coisa... eu direi "sim".
me tire o mocassim
e dê pra mim seu seio.

e fique assim gemendo em trote lento,
guardando em seus afagos meu cabelo,
seu hálito a aquecê-lo
num "ai, que não agüento..."

e passe do trotar à galopada,
arranque meu silêncio com seus gritos,
me chame de maldito,
e implore ser amada.

e beije e gema e grite e trema e goze...
e que não fique nada nos ouvidos,
além desses gemidos
do arfar de nossas vozes...

Antoniel Campos




Três quadras do Othoniel (Menezes):

"Escrava dos desenganos,
tem pobre compensação
- é há mais de quarenta anos,
dona do meu coração !

Mataram a minha planta,
o meu ficus-benjamim...
- Só pode ser uma santa,
quem pariu cabra tão ruim !

A camisa rota, ó corno,
que só você foi quem viu,
foi de uma foda no torno
com a puta que lhe pariu...! "

Abs.
Laélio





T R O V A S

1.

Depois da Lua de Mel,
frustrada como ninguém,
ela disse: Eu quero um homem;
êle disse: E eu também...

Gilda Moura


2.

Quando chega o carnaval,
meu gato foge de mim.
Se esconde lá no quintal,
prá não virar tamborim...

João Alfredo Pessoa de Lima Neto

(João Bolão)


3.

Do tal do fio dental,
a inteligência é profunda.
Porque mora muito bem,
dentro do rego da bunda...

Bob Motta


4.

A menina quando é feia,
é que nem lagarta preta.
Quando metamorfoseia,
vira linda borboleta...

Clarindo Batista de Araujo




MADRUGADA

É madrugada
a brisa fria
sopra de cheio
sobre a relva:
É primavera.

O cheiro bom
da flor do mato
a relva fria
orvalhada
anuncia:
A manhã

O canto do rouxinol
vem com ela
e canta mais,
no seu ninho
a relva orvalhada:
Diz que é primavera.

Chagas Lourenço




Oração

Dai-me, Senhor, essa paz suave
que emana da mulher amada,
rio com temperatura de lã
onde aqueço a minha solidão.
Dai-me, Senhor, a coragem de proclamar
a infinita ternura do meu silêncio
quando olho para a mulher amada
no abandono do seu sono.
Dai-me, Senhor, o recato dos guardiães
para que eu silencie sobre todas as doces loucuras
da mulher amada.
Dai-me, Senhor, a mulher amada
subitamente surgida nos ícones da poesia.

NEI LEANDRO DE CASTRO




O traço expressionista de Franklin Serrão


Pintor, ilustrador, professor, editor, cronista e boêmio, Franklin Serrão é um jovem talento que vem chamando a atenção de críticos de arte, despontando como uma das grandes promessas nas artes plásticas potiguar. Dono de um traço único, Serrão retrata em suas telas cenários expressionistas, acentuando com cores tropicais os ambientes figurados, explorando as sombras e luzes de uma forma homogenia.

Nasceu no Bairro Nordeste, onde fez fama de menino traquinas nos anos setenta. Filho do paraibano de Santa Rita, Fernando Serrão e dona Zuleide Serrão, seridoense de Jardim de Piranhas, Franklin já se destacava na escola com um forte traço para o desenho. Como todo pintor figurativista, começou desenhando e a pintura veio como uma evolução do desenho.

Aos 34 anos de idade, já experimentou vários segmentos na sua carreira polivalente. Trabalhou em gráfica, copiadora, ensinou geografia no Ensino Médio e Fundamental de escolas públicas, produziu eventos culturais, editou livros, ilustrou peças publicitárias e capas de livros. Durante algum tempo, foi colaborador assíduo do jornal VOZ DE NATAL como chargista. Era nos momentos em que estava desempregado que podia se dedicar intensamente à pintura. “Antes, era um estudo muito lento em cima da pintura, dividindo meu tempo com o trabalho”, ressaltou.

Conforme o artista, seu trabalho está se direcionando para o expressionismo figurativo, uma espécie de pintura tropical, usando tinta acrílica sobre telas feitas pelo próprio artista. “No expressionismo alemão as cores são muito nebulosas e as figuras são muito deformadas, o que não acontece no meu trabalho. Procuro fugir dessa caracterização”, afirmou.

Buscando aprimoramento para sua arte, Serrão tem estudado alguns artistas consagrados e confessa uma preferência pelos pintores: o mexicano Diego Rivera e os brasileiros Portinari e Di Cavalcanti. Em terras cascudianas, sua pintura recebeu leve influencia de Newton Navarro e Assis Marinho. Hoje, adquiriu um estilo próprio, sendo sua arte reconhecida por sua maneira singular de pintar. Sua técnica expressionista alia-se a traços coloridos e livres, esculpem volume, luz e sombras aos ambientes.

Franklin Serrão participou de várias exposições coletivas de arte, entre elas a “III Mostra de Arte Prata da Casa”, realizada na Base Aérea de Recife, onde conquistou o 1º lugar na categoria ‘pintura’ com a obra “Auto retrato”. Em maio último, realizou sua primeira exposição individual “Expressionismo”, na galeria de artes do Bardallos, em Natal.

Atualmente, Serrão tem trabalhado numa série de quadros, cujo tema é o cotidiano dos botequins da Cidade Alta, surgido da sua participação na confraria do Beco da Lama, de onde veio a inspiração. “É lá que vamos encontrar os artistas verdadeiros. Uma coisa é você ver a teoria, outra é ir ou Beco e ver as coisas acontecerem na prática”, frisou.

Segundo o artista, a dificuldade de todo pintor é a escolha do tema. Às vezes, o tema vem por encomenda do cliente, mas, na maioria dos casos, pela observação do artista. Dom Quixote, Lampião, São Franciso, Santa Ceia, cangaço, retirantes e sertanejo, são temas apreciados e os mais procurados. “Um caboclo tangendo o boi, gado no pasto, jagunços e vaqueiros, cenas bucólicas do sertão são mais procuradas do que nossas praias enfadonhas e festas populares produzidas, que não são autenticas do anseio popular”, disse.

A veia de escritor Serrão despertou quando os editores do jornal cultural “O Potiguar”, João Gothardo Emericiano e Moura Neto abriram espaço para seus textos, o incentivando a escrever. Atualmente, seus artigos e crônicas têm espaço no Jornal de Hoje, Tribuna do Norte e Diário de Natal. Aliando artes plásticas ao texto, o artista/escritor trabalha no projeto do livro “Memórias de Botequim”, narrando e retratando os acontecimentos dos últimos dez anos que testemunhou, vividos na boêmia natalense.

Segundo Serrão, não há condições de viver trabalhando com artes plásticas em Natal. Em sua opinião, o artista tem que ser eclético, produzindo muito e sobreviver com outra função, transcendendo a pintura, como ilustrar livros, trabalhos publicitários e editar material livresco.

Recentemente, o artista ilustrou o livro de cordel do poeta Manoel Azevedo, “Cordel da Cachaça”. Serrão e o poeta mantêm uma editora chamada “Serrote Preto”, e vai lançar outro livro, um cordel histórico do século passado, “O ABC dos Canelas”, do poeta Preto Salvador, narrando o massacre em Santana dos Matos.

Em novembro, Franklin Serrão vai fazer uma exposição individual na Feira de Sebos de Natal, na praça André de Albuquerque. O tema da exposição será “Dom Quixote De La Mancha”, em homenagem aos 400 anos desse clássico da literatura espanhola, escrito durante o cárcere por Miguel de Cevantes.

Alexandro Gurgel




P A P A N G U 2 0

Já nas bancas de jornais e livrarias do Estado, a vigésima edição da revista de humor e cultura Papangu. A partir da arte da capa (mais uma "traquinice" do cartunista Túlio Ratto), o leitor já terá uma idéia do que
está por vir em se tratando de novidades na política potiguar. Nesta edição, que deixa a Papangu a apenas quatro números de completar dois anos de seu lançamento, a revista destaca, mais uma vez, o sempre agitado palco da dramaturgia política do Rio Grande do Norte. Assim, velhos e conhecidos
atores da arte eleitoreira dão continuidade à longa (senão sem fim) novela Boca de Urna.

Neste episódio, os principais grupos políticos do Estado (leia-se Garibaldi Alves Filho e Wilma de Faria) buscam, com unhas e dentes, conseguir a atenção e o apoio do "Galinho dos Ovos de Ouro", aqui
protagonizado pelo senador pefelista José Agripino Maia. Este súbito interesse pelo ovíparo do Alecrim, que até bem pouco era escorraçado pelos mesmíssimos pares, tem uma explicação bastante razoável: é que atualmente Zezinho figura como o parlamentar rio-grandense com maior destaque no
cenário político do País.

Na parte literária, destaque para a entrevista com o professor e escritor mossoroense Tarcísio Gurgel, radicado em Natal, que figura como um dos mais importantes nomes das Letras Potiguares. A entrevista foi concedida ao igualmente professor e escritor Clauder Arcanjo, que, sob o heterônimo
Carlos Meireles, também assina o espaço de resenha literária denominado Autores & Obras. Neste número, o bibliófilo Meireles indica ao leitor de Papangu o livro "A Balada do Velho Marinheiro", do poeta Samuel Taylor
Coleridge (1772-1834), um dos mais expressivos nomes do romantismo anglo-saxão.

Em Primeiras Palavras, o estudante Rodolfo Cavalcante foca a ansiedade e a solidão humana no texto "O Telefonema". Tem-se aí um dos primeiros escritos de um jovem que envereda pelos tortuosos becos e vielas do mundo literário. No quadro Em Cartaz o leitor depara com boa dose de sátira e
ironia sobre o atual momento político nacional na sinopse "Mandalascar", que narra as peripécias dos petistas no comando do País e a infindável onda do "mensalão", acompanhada com estarrecimento e angústia pelo povo brasileiro.

Na página 10 o leitor se depara com o artigo do professor Francisco Edílson Leite Pinto Júnior, do Departamento de Cirurgias da UFRN, que aborda o grave momento político com um texto irônico sobre o que faria se fosse um juiz, posicionando-se de forma até sugestiva para que se aplique a lei com mais rigor no país da bola, da propina e do carnaval.

No espaço exclusivamente aberto para o exercício da prosa de ficção, este mês o leitor de Papangu confere os apuros e ímpetos sexuais de um copidesque provinciano no conto "Ossos do Ofício", de autoria do escritor
e poeta Marcos Ferreira, que também figura entre o rol de papangunistas com a seção intitulada Escrivaninha.

Na página destinada à criação poética, a revista oferece versos de autores potiguares como Symara Tâmara, Marco Túlio Cícero, Lívio Oliveira, Kalliane Sibelli e Antoniel Campos. No mais, são páginas repletas de humor
e cultura que a Papangu vem apresentando ao público do Rio Grande do Norte e do Brasil há quase dois anos, o que se pode considerar um verdadeiro feito para uma publicação cultural nascida e sustentada no ideal e na perseverança de uns poucos abnegados e sonhadores deste rincão nordestino.

Nesta edição, a revista Papangu conta, ainda, com papangunistas e colaboradores como Milton Marques, Leonardo Sodré, Franklin Jorge, Damião Nobre, Alexandro Gurgel, Antonio Capistrano, Marco Túlio, Escolástico Bandeira, Raildon Lucena, Cláudio de Oliveira e Túlio Ratto.

Túlio Ratto

por Alma do Beco | 7:50 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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mariza lourenço

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