quarta-feira, abril 13, 2005

A MACONHA E O PADRE CÍCERO



Os jornais, vez por outra, noticiam a descoberta de plantações de maconha em terras potiguares, no Seridó e no Alto-Oeste. Essas lavouras teriam surgido, dizem os entendidos (epa!), por conta do assédio da Polícia Federal aos latifúndios do chamado Polígono - ou Triângulo - da Maconha, nos cafundós de Pernambuco, ribeiras do São Francisco.
A atividade, o plantio, o canhameiral, pode ser até novidade para os nossos sertanejos. O uso da droga – pernicioso ou não – é secular. A “erva maldita”, veladamente, por baixo do pano, sempre esteve presente nos sertões nordestinos.
Graciliano Ramos, escrevendo o “Linhas Tortas”, em Palmeira dos Índios, no sertão das Alagoas, afirmava que “nas cidades os viciados elegantes absorvem o ópio, a cocaína, a morfina; por aqui há pessoas que ainda usam a liamba”. “Liamba” é uma das denominações seculares da maconha no Nordeste e tem origem africana. Ly-amba, em Angola, São Tomé e Príncipe. Já “dirígio” (ou “dirijo”) é vocábulo indígena, amazonense, nosso, brasileiro – embora Nei Lopes, pesquisador carioca, tenha acenado ser, “provavelmente”, de origem banta. Ambos, sem dúvida, relativos à cachimbagem dos africanos e à pajelança dos silvícolas, nos seus ricos rituais de invocações às divindades representativas das forças da Natureza.
Nunca misteriosa, sempre perigosa e deletéria, a maconha, noutra modalidade de uso, recebeu na Arábia o nome de “haxixe”. É a resina, a cera extraída das flores e dos frutos (“belotas”). Homero, falando da embriaguês a que se entregavam os citas, faz alusão à inalação dos vapores do cânhamo. Os orientais servem-se do haxixe pitando o narguilé – cachimbo composto de um fornilho, um tubo e um vaso cheio de água perfumada, por onde atravessa a fumaça antes de chegar à boca do usuário. Mil anos a.C., os hindus já consideravam o cânhamo como “planta sagrada”, havendo, no Rig-Veda, alusão a respeito. “Charas”, na Índia, é, também, sinônimo de “costume”. Notável, curioso, é que, no Brasil – aqui mesmo em Natal, nas comunidades periféricas ou nos condomínios de luxo - , qualquer dependente da maconha, com ou sem leitura, sabe que “chara” equivale a um longo, grosso, “substancial” “canela-de-anjo”, um “cheio” !
A sinonímia é extensa: maconha, aliamba, atchí, bagulho, bengue, birra, bosta-de-burro, cabeça-de-nego, coisa, diamba, dirígio, dirijo, dorme-dorme, elba-ramalho, erva, erva-do-diabo, erva-do-sonho, erva-maldita, erva-do-cão, erva-do-capeta, fuminho, fumo, fumo-de-angola, fumo-do-mato, fumo-da-Índia, fumo-selvagem, jererê, liamba, manga-rosa, maria-joana, massa, mato, muamba, mutuca, pacau, palha, pango, preto, rabo-de-raposa, ralfe, riamba, tabana-gira, sariema, soruma e (ufa!) suruma.
Voltando à nossa interlândia, Otoniel Menezes, no seu “Sertão de Espinho e de Flor”, de 1952 (reedição à vista agora, em 2005 ), anotando a palavra “liamba”, citando fontes raras, fidedignas, descobriu que no tempo do Padre Cícero, em Juazeiro, a Meca nordestina, dos muitos “endemoniados e possessos” levados, às vezes até amarrados, à presença do patriarca para a benção curadora , boa parcela estava de “cabeça feita”, patota muito “doidona”. O “Padim”, sabedor da mutreta, do fumacê aloprado, queimou ruim, ruim mesmo...

Laélio Fereira de Melo

por Alma do Beco | 9:20 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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