quarta-feira, abril 13, 2005

JANGO EM SANTA CRUZ



1962. João Goulart (Jango) era o presidente do Brasil. Aluísio Alves governador do Rio Grande do Norte e José Ferreira Sobrinho, meu tio, irmão do meu pai, prefeito de Santa Cruz.
O Major Theodorico Bezerra, deputado federal, era o líder político da região do Trairi e havia conseguido junto ao presidente Juscelino, seu companheiro de PSD, o asfaltamento da estrada que liga Natal à Santa Cruz, concluída no governo de João Goulart. O governador Aluísio Alves, por sua vez, estava trazendo para o Rio Grande do Norte a energia de Paulo Afonso e a primeira cidade a ser beneficiada era Santa Cruz, no Trairi.
Com as obras concluídas, marcou-se a inauguração.
Palanque armado na praça, todos os preparativos prontos, aguardava-se o governador que viria com todo o seu secretariado, deputados estaduais e federais, além da comitiva do presidente da República.
A cidade inteira se agitava aguardando a visita de personagens ilustres do Estado e do país. A estrada asfaltada traria para Santa Cruz uma quantidade de automóveis, ônibus, mixtos e caminhões nunca vista na região. Todos os municípios próximos e até de regiões mais distantes mandaram seus representantes para receber João Goulart.
Início da noite, a praça já apinhada de gente esperando ouvir o discurso das autoridades, o governador Aluísio Alves, grande orador, fez um empolgante discurso, resgatando uma promessa de campanha: trazer a energia de Paulo Afonso para o Rio Grande do Norte. O presidente ressaltou o apoio dado, através da CHESF, para a concretização do sonho dos norte-riograndenses, e o esforço do Ministério dos Transportes na melhoria da rodovia ligando a região à capital do Estado.
Terminada a festa de inauguração, todas as autoridades presentes se dirigiram para o Trairi Club, para o coquetel de comemoração.
O clube estava lotado. Lá fora, o povo cercava a entrada principal querendo ver o presidente. O Exército guarnecia toda a entrada e as laterais com o auxílio da segurança da presidência.
Quando terminou o coquetel, Jango, ladeado de autoridades e seguranças, aproximou-se da porta de saída. Caminhando na frente, firmemente, deixava perceber o defeito da perna direita, cujo joelho não dobrava, vítima que fora de uma doença na adolescência.
Quando pôs os pés na calçada, eu, muito pequeno, corri em sua direção. Um soldado do Exército tentou me impedir, colocando a mão sobre meu ombro, segurando-me pela camisa, quando ouviu a voz do presidente:
- Deixa!
Aproximei-me meio atônito, estirei a mão de menino para cumprimentá-lo e ele apertou minha mão falando com voz grave:
- Como vai, guri?
Continuou seus passos firmes e eu fiquei me perguntando:
- Que diabo é guri?
Estava, porém, feliz da vida por ter apertado a mão do presidente.


Chagas Lourenço

por Alma do Beco | 9:31 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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