Rosa de Pedra
Não costumo tomar conhecimento
do instante futuro ou que passou,
meu momento é o lugar aonde vou
a reboque do próprio pensamento.
Sou o zero do eixo espaço-tempo,
uma idéia finita, pouca e parca,
o produto final da anasarca
numa soma de muitos em ninguém.
Tudo isso e o contrário, se convém
ser alguém que de mim não deixa a marca.
O instante que sou é o que me resta
do intervalo entre o escuro e a claridade.
Todo verso que escrevo é falsidade,
menos esse, o terceiro, que me atesta.
À mentira, saúdo e faço festa.
A verdade não passa por meu crivo.
Se encarar-me de frente não cultivo,
é porque de soslaio mais me enxergo.
Em verdade, à verdade não me envergo,
se me nego, ao menos, sobrevivo.
Minha sina é de ser o meu contrário:
anti-próton, anti-elétron, anti-matéria.
Preferir-me na forma deletéria
de um alguém totalmente refratário.
Olho a mim e me digo: esse otário!
um bufão para o riso da canalha,
que, há muito, perdeu-se na batalha
intentada na busca de si mesmo.
viva assim: essa face, à toa, a esmo.
morra assim: essa face, tua mortalha.
Antoniel Campos