sábado, março 26, 2005

TRECHO DO CANTO 13, OTHONIEL MENEZES

Ferreira Itajubá

Trecho do "Canto 13" (Minha Viola a Chorar)
Othoniel Menezes

O epitáfio mais pomposo,
A quem, porventura, o gozo
Do que não teve, dará?
- Na vala-comum, não dorme,
O diamante rude e enorme
Do crânio de Itajubá?

E eis o que este te diria,
Sem a santa hipocrisia
Do que te disse – por Deus!
Vê quão fiel se te ajusta,
Natal, cidade-Locusta,
Cornélia... de filisteus!

-“A terra onde tenho o nome,
mata os poetas – de fome.
Profeta, nenhum se viu...
A parábola de Cristo
Não teve melhor registro,
Mais dura não se cumpriu!

“Moura-torta de poetas!
Em minha vida, completas
O que fizeste aos demais!
Não venhas, depois, no trilho
Dos meus versos: - Ai, meu filho!
Carpir, madrasta mendaz!

“És linda. Iara morena,
pulando da água serena
do Potengi, a cantar,
nua, à sombra dos coqueiros,
perfumada de cajueiros,
-os seios furando o mar...

-“Jamais quizeste, entretanto,
ouvir o amoroso canto
de um filho. Formosa e cruel,
à mingua os matas. E, calma,
lhes negas tivessem alma.
És mãe – como a cascavel...

“Porventura, alguma estátua
já ergueste, cabocla fátua,
a quem fosse meu irmão?
Se a políticos se faça,
Quando farás, e em que praça,
A de Alberto Maranhão?

“Órfão de paz e conforto,
que importa – depois de morto -,
teus remorsos merecer?
Maldita sejas se, um dia,
Tentares, hiena ímpia,
As cinzas me revolver!

“De resto, não m’as perdeste?
Melhor destino, foi este,
Que o de um rótulo em latim,
- língua de enterro e de foro,
em que se diz que foi de ouro
tanta vasilha ruim...

“A glória a que aspiro – a única -,
a que há de ser minha túnica,
mais sagrada que a de um rei,
posse, intangível, se planta
na alma do povo – que canta
as canções que lhe ensinei!”-

Conceito geral, que a História
Tem dado à palavra – glória -,
Que pesas, sem a exceção?
Quem, no tempo, é mais gigante:
-Francisco de Assis ou Dante?
-O cérebro, ou o Coração?

Nascido sobre palhinhas,
Mais humilde que as rolinhas,
-Nu e Só, morre na Cruz....
Que Papa, na História inteira,
Vale um átomo, da poeira
Das jornadas de Jesus?

Feliz, quem possa, chegado
Do mundo, ao Céu estrelado,
Alto, à Consciência, dizer:
-“Amei!” Por amor, somente,
vir à terra, novamente,
sofrer! Batalhar! Viver!

Trecho do "Canto 13" (Minha Viola a Chorar) do livro "Sertão de Espinho e de Flor", de Othoniel Menezes - cuja segunda edição deverá ser posta em circulação em junho próximo. Prefácio de Cláudio Galvão, biógrafo do poeta, apresentação e notas de pé-de-página de Laélio Ferreira de Melo. Notar que as estrofes de Othoniel - profundo admirador da poesia de Ferreira Itajubá - sobre quem escreveu lúcido e erudito ensaio - revelam o seu desencanto, já naquela época, com os poderosos da província, as "igrejinhas", a hipocrisia da nossa paróquia... O poeta morreria, muito tempo depois, no Rio, auto-exilado e saudoso do chão onde nasceu.

Laélio Ferreira de Melo

por Alma do Beco | 6:13 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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