Trecho do "Canto 13" (Minha Viola a Chorar)
Othoniel Menezes
O epitáfio mais pomposo,
A quem, porventura, o gozo
Do que não teve, dará?
- Na vala-comum, não dorme,
O diamante rude e enorme
Do crânio de Itajubá?
E eis o que este te diria,
Sem a santa hipocrisia
Do que te disse – por Deus!
Vê quão fiel se te ajusta,
Natal, cidade-Locusta,
Cornélia... de filisteus!
-“A terra onde tenho o nome,
mata os poetas – de fome.
Profeta, nenhum se viu...
A parábola de Cristo
Não teve melhor registro,
Mais dura não se cumpriu!
“Moura-torta de poetas!
Em minha vida, completas
O que fizeste aos demais!
Não venhas, depois, no trilho
Dos meus versos: - Ai, meu filho!
Carpir, madrasta mendaz!
“És linda. Iara morena,
pulando da água serena
do Potengi, a cantar,
nua, à sombra dos coqueiros,
perfumada de cajueiros,
-os seios furando o mar...
-“Jamais quizeste, entretanto,
ouvir o amoroso canto
de um filho. Formosa e cruel,
à mingua os matas. E, calma,
lhes negas tivessem alma.
És mãe – como a cascavel...
“Porventura, alguma estátua
já ergueste, cabocla fátua,
a quem fosse meu irmão?
Se a políticos se faça,
Quando farás, e em que praça,
A de Alberto Maranhão?
“Órfão de paz e conforto,
que importa – depois de morto -,
teus remorsos merecer?
Maldita sejas se, um dia,
Tentares, hiena ímpia,
As cinzas me revolver!
“De resto, não m’as perdeste?
Melhor destino, foi este,
Que o de um rótulo em latim,
- língua de enterro e de foro,
em que se diz que foi de ouro
tanta vasilha ruim...
“A glória a que aspiro – a única -,
a que há de ser minha túnica,
mais sagrada que a de um rei,
posse, intangível, se planta
na alma do povo – que canta
as canções que lhe ensinei!”-
Conceito geral, que a História
Tem dado à palavra – glória -,
Que pesas, sem a exceção?
Quem, no tempo, é mais gigante:
-Francisco de Assis ou Dante?
-O cérebro, ou o Coração?
Nascido sobre palhinhas,
Mais humilde que as rolinhas,
-Nu e Só, morre na Cruz....
Que Papa, na História inteira,
Vale um átomo, da poeira
Das jornadas de Jesus?
Feliz, quem possa, chegado
Do mundo, ao Céu estrelado,
Alto, à Consciência, dizer:
-“Amei!” Por amor, somente,
vir à terra, novamente,
sofrer! Batalhar! Viver!
Trecho do "Canto 13" (Minha Viola a Chorar) do livro "Sertão de Espinho e de Flor", de Othoniel Menezes - cuja segunda edição deverá ser posta em circulação em junho próximo. Prefácio de Cláudio Galvão, biógrafo do poeta, apresentação e notas de pé-de-página de Laélio Ferreira de Melo. Notar que as estrofes de Othoniel - profundo admirador da poesia de Ferreira Itajubá - sobre quem escreveu lúcido e erudito ensaio - revelam o seu desencanto, já naquela época, com os poderosos da província, as "igrejinhas", a hipocrisia da nossa paróquia... O poeta morreria, muito tempo depois, no Rio, auto-exilado e saudoso do chão onde nasceu.
Laélio Ferreira de Melo