Foto do Arquivo Nacional de Washington, mostrando
um Catalina VP-52 nas águas mornas do Potengi em 1942
Master Len (Lenine Pinto) Of Cotovelo.
Alvíssaras para Vossa Mercê !
Você, velho amigo, tem toda a razão. Os nossos "coleguinhas" ouvem o galo cantar e não sabem aonde..!
A prioridade na travessia do Atlântico fica, sem contestação até agora, com Sacadura e Gago Coutinho - embora não tivessem passado por Natal. Em segundo lugar, pousando no Potengi, também com escala em Fernando de Noronha, o circunspecto e desconfiadíssimo Marquês Francesco De Pinedo. O avião do italiano ("Santa Maria") seria o segundo aeroplano visto pela população natalense.
A terceira "libélula de aço" a voar sobre a Cidade dos Reis Magos e amerissar no "Potengi amado", em 21 de dezembro de 1922, foi o hidroavião "Sampaio Correia", pilotado por Euclides Pinto Martins e Walter Hinton. Faziam um reide Nova York-Rio de Janeiro.
Pinto Martins - hoje nome do Aeroporto de Fortaleza - não era desconhecido em Natal. Nascido em 1892, em Camocim, no Ceará, muito cedo veio, com parentes, para Natal. O pai era de Mossoró, mexia com salinas. Estudou, como nós, no vetusto "Atheneu", morou na Rua Chile, na Ribeira. Aos quinze anos, tornou-se embarcadiço e foi morar nos Estados Unidos, onde casou e se fez Engenheiro-mecânico. De volta ao Brasil, trabalhou para o Governo. Apaixonado pela aviação, retornou à América, tornou-se aviador e organizou a temerária aventura. Na primeira tentativa, caiu em Guantânamo, em Cuba, destroçando totalmente o aparelho. Uma canhoneira americana, a "Denver", o recolheu e aos quatro companheiros : Hinton, um mecânico, um cinegrafista da Pathé e um repórter do "New York World".
O danado do cearense conseguiu, em Pensacola, na Flórida, outro avião - caíndo aos pedaços ! Tenazmente, de prego em prego, fez o percurso New York-Rio em 175 dias. No ar, em vôo, gastou pouco mais de 100 horas.
A chegada, no Rio, em 8 de fevereiro de 1923, foi apoteótica. Multidões nas ruas, escolta de aviões da Marinha e o Presidente Bernardes recebendo-os no Palácio do Catete. Muita festa, prêmios, medalhas, selos comemorativos...
Passada a festa toda, o homem foi esquecido. No Rio, deram-lhe o nome a um beco, na Lapa. Sacadura Cabral e Gago Coutinho - que não tinham chegado ao Rio (ficando na Bahia) receberam nomes de largas avenidas.
Um ano e dois meses depois do triunfo, das festas e das homenagens, o praieiro de Camocim e quase natalense Euclides foi encontrado morto num quarto de hotel, com um balaço na cabeça. Tinha trinta e dois anos ! Andava deprimido, era viúvo da mulher americana e - diziam - enlouquecera de amores por uma bailarina. Deram-no, pois, como suicida. Depois, dúvidas foram levantadas, dando-o como assassinado. Interessado na prospecção de petróleo, iria ferir interesses muito poderosos dos americanos - gente que ele conhecia tão bem...
Nas ruas do Rio, os irreverentes cariocas, fazendo gozação com os ilustres aviadores portugueses, ainda cantavam:
" Sacadura vem de bonde, Pinto Martins pelo ar..."
Do fiel escudeiro,
Laélio Ferreira de Melo
P.S.: O verbo "amerissar" (empregado acima), segundo Houaiss, foi usado (no sentido de amarar, termo naval) pela primeira vez em 1922, na revista "A Cigarra", número 183. Teria sido "inventado" em conseqüencia do reide de Sacadura ? O diabo é que a Marinha já "amerissava" na Guanabara há alguns anos! Ah, se Saturnino fosse vivo !