domingo, fevereiro 20, 2005

Marlene



por Manuel Bandeira


Ainda será tempo de falar de Marlene Dietrich? Não a vi quando de sua passagem pelo Rio: televi-a apenas, o que não é a mesma coisa, sobretudo levando em conta como foi tecnicamente imperfeita a sua apresentação (viam-se mais as costas do locutor do que a figura da artista).

Todavia, resistiu ela a tudo o que, desde o Anjo Azul, me impressionou como essencial no extraordinário encanto da mulher Marlene - aquele sorriso de olhar infinitamente apiedado e que parece dizer-nos, sem gosma de sentimentalismo, aliás: "Criança, a vida é tão absurda, tão triste!". Mas a vinda de Marlene proporcionou-nos um espetáculo bem divertido, que foi a polêmica entre os cronistas C.D.A. e Vinicius de Moraes. Defendendo cada um a sua estrela, C.D.A. Greta Garbo, Vinicius a Marlene, reviveram ambos galhardamente os dias românticos em que Castro Alves e Tobias Barreto se digladiavam no Recife por causa de duas artistas da mesma companhia no Teatro Santa Isabel.




Para Vinicius Marlene é a mulher, talvez a mulher-idéia de Platão, ou o Eterno Feminino de Goethe; para C.D.A a Garbo é um mito. Vinicius tomou nojo da sueca porque a viu, num coquetel de Mlle. Schiappparelli, recusar uma beberragem estranha onde boiava uma pétala de rosa e pedir vodca. Tive vontade de acudir em auxílio de C.D.A, fornecendo-lhe certo trecho de carta de Vinicius, datada de 49 em Hollywood, na qual o poeta me contava a sideração em que ficara ao cruzar na rua com o Mito.

Mas procurei a carta e não a achei. Achei foi outra, em que ele me falava de Marlene: "Você sabe, ela está cada dia mais linda, mais elegante, mais tudo. É uma mulher incrível, sem o menor desgaste, e de uma naturalidade fantástica. Tira fotografias de publicidade com o netinho, sem dar a menor bola para a legião de apaixonados que tem aí - por esse mundo todo. Eu, depois que a vi com o neto ao colo, fiquei mais apaixonado do que nunca. Imagine você a gente a...". Bem, não posso transcrever o resto, mas a avó Marlene tentava o poeta. "Isso nunca me aconteceu, pelo menos que eu soubesse", concluía Vinicius.

Quanto a mim, o que me ficou de todos os filmes em que vi Marlene foi aquele sorriso a que me referi no começo destas linhas. Lembro-me fortemente é de seus "partners". Jannings, no "Anjo Azul", Gary Cooper, em "Marrocos", ao passo que da Garbo me recordo nitidamente, indeslembravelmente, em todos os filmes, sem ter a menor reminiscência dos homens - e eram todos astros - que trabalharam com ela.

Folha da Manhã, em 09/08/1959)

por Alma do Beco | 10:51 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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