Quem não conhece a xanana? Aquela florzinha brejeira que nasce em todo canteiro do meio da rua, beira de calçadas e terrenos baldios? Muitas vezes confundida com erva daninha, ela é impiedosamente extirpada do solo e relegada à condição de lixo, de planta indesejada pelo pessoal da limpeza urbana. Serão eles tão insensíveis à delicadeza e ao aveludade das suas pétalas, ao suave degradé que vai do branco ao amarelo central que as compõe, ao seu formato mimoso, arredondado e tão facilmente reproduzível que certamente consta em todo desenho infantil?
A xanana é uma flor teimosa. Quando o tempo está propício, ela irrompe a terra, nasce planta robusta e flora exuberante. Basta uma chuvinha, ou até mesmo o ar ficar mais ameno e então temos canteiros naturais - onde o criador foi o grande jardineiro - a ornamentar ruas e avenidas (por exemplo a Avenida Rui Barbosa) a deleitar nossa visão com o seu doce colorido, tão nacionalista.
Pois bem, a xanana foi nesta última terça-feira, dia 23 de março, indicada por Diógenes da Cunha Lima para ser símbolo poético de Natal. Em seu discurso alusivo ao Dia do Bibliotecário, dia 12 de março, o poeta e homem da lei, apontou os motivos para a indicação: persistência, resistência, beleza e fortaleza. Assim é a Xanana. Assim é Natal. Uma cidade que resiste aos desmandos do poder e apesar de tudo continua bela. Não desiste de lutar e acreditar que um dia será uma cidade mais humana, com melhores condições para seus habitantes. Uma cidade que é favorecida pela natureza. Uma cidade mulher pela sinuosidade de suas formas, nas palavras do orador.
Então, como ficaria um provável design para o símbolo poético de Natal? Iríamos acrescentar xananas aos elementos já representativos da cidade, o sol, o barco, o morro do careca, que a cada dia mais careca fica? Ou iríamos simplesmente substituí-los por um belo ramalhete de xananas? Poderíamos ainda criar uma bucólica paisagem com colinas cobertas por xananas com o mar ao fundo, um sol poente e um barquinho à deriva.
Diógenes inovou e causou impacto com sua sugestão. Quem diria que uma florzinha à toa, típica da região, desprezada, arrancada e pisoteada poderia ser apontada para representar uma cidade?
Mas está certo o poeta. A xanana merece a indicação. Tem haver com a cidade e também com nossa profissão; pois continuamos persistindo num mercado de trabalho cada vez mais competitivo e invadido por outros profissionais. Somos fortes e teimosos; algumas vezes morremos mas nascemos a cada nova oportunidade, a cada reconhecimento. A cada clima propício evidenciamos com esmero nosso profissionalismo e competência. E por este dia tão pouco lembrado pela sociedade, mas mesmo assim motivo de orgulho para nós, parabenizamos a classe, a Cidade, em seus 400 anos, a xanana e ao orador, que com sua sensibilidade e sua paixão declarada publicamente pela companheira e pela cidade, teve a feliz idéia deste símbolo.
Ana Cristina Cavalcanti Tinôco
Bibliotecária