Tribuna do Norte
16/04/01
Quando Nat King Cole (conhecido pelas novas gerações por sua famosa "Unforgettable) ouviu o Trio Irakitan, na década de 50, não resistiu. Quando viesse ao Brasil queria gravar com os potiguares que já haviam deixado sua sonoridade registrada em disco no México. E assim o fez. A história dos três norte-rio-grandenses que se projetaram através da música anda meio esquecida. Para resgatar curiosidades e a trajetória do trio, a produtora musical Iris Gamenha resolveu tornar-se escritora.
Potiguar que mora há 32 anos no Rio de Janeiro, Iris resolveu escrever o livro "A Incrível História do Trio Irakitan." O título é uma homenagem à série de matérias feitas pelo Diário de Natal em 1955, sobre o trio. Iris trabalhava na RCA nos anos 80, conviveu com o trio já não mais com a formação inicial, mas narrando histórias muito interessantes. A idéia de escrever sobre o trio foi sendo consolidada a partir de 1998.
Matéria-prima não foi problema. Material publicado na imprensa, fotos e o diário de João Costa, um dos integrantes do grupo, subsidiam as histórias. Para terminar o trabalho, Iris pretende acrescentar depoimentos de artistas que conviveram com o Trio Irakitan. Entre eles, Dercy Gonçalves, Erval Rossano, Chico Anísio, Norma Bengell. "O artista na mídia a gente gosta. Amanhã, se ele não está na mídia, a gente esquece. E esquece rapidinho", declara a produtora musical, que tem como objetivo principal editar o livro no Estado.
"Seria fácil editar o livro no Rio de Janeiro, onde tenho muitos contatos. Mas gostaria de editá-lo no Rio Grande do Norte", assegura. O trio teve na sua formação original Gilvan Bezerril, que nasceu no Recife, mas cuja família é de Pedro Velho (RN); além dos natalenses João Costa e Edson França.
Fernando da Câmara Cascudo, filho de Luís da Câmara Cascudo, foi um dos grandes incentivadores do trio. Fernando era presidente da Sociedade Artística Estudantil e fazia caravanas com os artistas pelo interior.
No começo, o grupo chamava-se Muirakitan. Descobriram que já haviam adotado este nome e Luís da Câmara Cascudo decidiu alcunhar o trio de Irakitan, alegando que não haveriam mais coincidências.
A formação do grupo aconteceu em 1950. Os integrantes tinham de 19 para 20 anos. A primeira apresentação profissional do Trio Irakitan foi no aniversário do Clube América. A orquestra e o maestro Nelson Ferreira estavam no mesmo evento. Nelson fez o convite para eles se apresentarem na rádio Jornal do Commercio.
A partir deste convite, o trio, que não tinha muitas pretensões, passou a receber vários convites. Em 1951, eles saíram de Natal pelo norte realizando shows pela América Central. "Eles comeram o pão que o diabo amassou, passaram fome", acrescenta Iris.
Na volta do exterior, eles foram para o Rio de Janeiro, assinando contrato de dez anos com a Rádio Nacional, que tinha à disposição o maior e melhor "cast" de cantores na época. Na Atlântida, famosa por seus musicais, o Trio Irakitan esteve em três filmes, onde são os artistas principais: "Virou Bagunça", "Rio Fantasia" e "Três Colegas de Batina". A sonoridade deles empolgava Dolores Duran a se apresentar com eles.
Por pouco o Trio Irakitan não fez a trilha sonora do filme "Inferno Verde", estrelado por Grace Kelly. Eles encontraram com o pessoal da Metro quando estes estavam procurando lugar para as locações do filme na Colômbia. Os potiguares cantaram "Maringá" e foram chamados para fazer a trilha sonora do filme. Só que a turnê do Trio Irakitan demorou muito e eles perderam o lugar para o Bando da Lua, que acompanhava Carmem Miranda.
Mas a morte de Edinho, em 1965, abalou a estrutura do grupo, que deu uma parada no trabalho. Para Iris, este tempo sem shows fez com que a força do Trio Irakitan esvaecesse.
Somente em 1972, o trio se refaz com nova formação: Gilvan, João e a entrada do sergipano Edil. O grupo sofre um segundo abalo. Nos anos 80, João fez uma cirurgia que o levou ao coma, estado em que permanece até hoje. O irmão de Edil, Edilson, passou a ocupar o lugar de João.
O trio, no início, tocava o que escutava no rádio. Quando retornou ao Brasil, o bolero estava em voga. Passaram a tocar versões de boleros. A marca registrada deles são os arranjos e harmonias próprias.