domingo, fevereiro 06, 2005

Visita de Roosevelt

José de Anchieta Ferreira



No dia 28 de janeiro de 1943, desembarcava na Rampa, em Natal, de regresso da histórica conferência de Casablanca, o presidente Roosevelt. Um rígido esquema de segurança montado por militares americanos o protegia. Vinha tratar de assuntos do momento internacional e do após guerra com Getúlio Vargas, que desde a véspera o aguardava em sigilo, a bordo de um destroier da Marinha americana. Foi reconhecido apenas por garotos que se banhavam no rio Potengi, que lhe gritaram o apelido de Gegê, quando o presidente se debruçou na amurada da embarcação. Três anos antes, poucos imaginariam que uma reunião daquele nível fosse possível e, mais ainda, dela resultasse a decisão de enviar forças brasileiras para a frente de combate. Isto porque muitos dos ministros de Getúlio eram fortemente germanófilos. Alguns até condecorados por Hitler e Mussolini.
“Nereu Ramos, interventor em Santa Catarina, e eu, interventor no Rio Grande do Sul, éramos francamente a favor dos aliados. Mas o ministro da Guerra, General Dutra, o chefe do Estado Maior, general Góes Monteiro e o chefe de Polícia, Filinto Müller, eram francamente pró-Alemanha” (Osvaldo Cordeiro de Farias – “Meio Século de Combate”).
Admiravam a eficiência das forças armadas alemãs. A técnica da blitzskrieg, que havia permitido à Whermacht vitórias espetaculares, chegando a dominar quase toda a Europa, causava-lhes admiração. Pareciam acreditar no mito de que onde o soldado alemão punha os pés, aí permanecia. A apreensão de navios brasileiros pela Marinha inglesa indignou-os profundamente, chegando o general Góes Monteiro a pedir ao governo que cortasse relações diplomáticas com a Inglaterra.
Mas a posição geográfica do Brasil não compartilhava da germanofilia de ministros militares. E ela ditou o nosso alinhamento com as nações aliadas.
O general Amaro Bittencourt, representante do Estado Maior do Exército Brasileiro, em Washington, depois de ouvir do general Marshall informações sobre o preparo militar e a estratégia a ser usada pelos Estados Unidos na iminente conflagração mundial, advertiu o nosso governo de que bases militares no Nordeste faziam parte dessa estratégia e que “os americanos irão ao extremo de instalar essas bases mesmo pela força.”
Assim, obedecendo imperativo de natureza geopolítica, bases área e navais foram construídas no Nordeste brasileiro e prestaram inestimável ajuda à vitória aliada. De Parnamirim partiram aviões para todos os teatros de operações militares, desde a África do Norte e Europa, até ao Extremo Oriente. E as toneladas de bombas despejadas por eles ajudaram a despedaçar os sonhos nazistas de construir um império de mil anos.
“Sem as bases aéreas que o Brasil nos permitiu construir em seu território, a vitória, tanto na Europa como na Ásia, não teria chegado tão cedo.” (Cordel Hull- Memoirs – pág 1421).
É ilustrativo, o depoimento do então Secretário Geral do Estado, o Dr. Aldo Fernandes, que gentilmente me permitiu gravar: “A chegada de Roosevelt a Natal foi uma surpresa para todo o mundo, não só para as autoridades civis como militares. Certa tarde, fui ao Palácio mais cedo, quando chega um oficial, ajudante de ordens do general Walsh, americano que comandava a área aqui. Vinha trazer um convite ao interventor Rafael Fernandes para ir à Rampa, mas para ir só, nem mesmo levasse seu ajudante de ordens, porque já havia um ajudante de ordens americano designado para ficar com ele. Imediatamente, telefono a Rafael, que veio ao Palácio e eu contei o fato. Ele tomou o carro e foi para a Rampa e ficamos sem saber de nada. Telefonei, então, ao chefe de polícia, o coronel André Fernandes, e ele me disse que também não sabia de nada. Deve ser alguma coisa importante para um convite dessa natureza. Algum general americano que vem por aí, etc.
Dentro de pouco tempo, com ares de espanto, volta o chofer que tinha ido levar o interventor.
- Olha, doutor Aldo, chegou lá na Rampa um aleijado, tiraram de um avião, pegaram ele e botaram num Jeep. O Getúlio está lá, o general Cordeiro (Gustavo Cordeiro de Farias), o almirante Ary Parreiras, um movimento danado, uma segurança, ninguém pode entrar e está tudo guardado.
Um pouco mais tarde, minhas filhas me telefonam:
- Pai, estamos aqui, na praça Pedro Velho, e vimos o Gegê e o Roosevelt passarem em direção a Parnamirim. Era soldado como o diabo, metralhadoras em cima dos carros, nas capotas, etc.
Ao anoitecer, chegam ao Palácio, o interventor e o general Cordeiro, sendo que este, danado, muito zangado.
- Vou telegrafar ao ministro da Guerra. Não sei como o presidente da República vem à nossa área e ninguém sabe, não comunicam coisa nenhuma. O Getúlio desembarca aqui e fica guardado por forças americanas e nós não tivemos conhecimento.
E Rafael:
- Eu não vou telegrafar coisa nenhuma, não vou protestar, porque, afinal de contas, eu achei até bom. Seria grande responsabilidade para nós se a guarda desse homens nos tivesse sido entregue.
Mas o fato é, acredito, o Cordeiro não telegrafou.

In História que não estão na História, 2ª edição ampliada, José de Anchieta Ferreira
RN Gráfica e Editora Ltda. Natal-RN, 1989


por Alma do Beco | 5:42 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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