Meire Gomes
19/10/2003
Olhos lavados
Buscam a sanidade perdida
Na tua boca
Profana e sacrossanta boca
Boca que incita
Os mais sacrílegos instintos
Perco-me
No verbo da tua língua
Na filosofia do teu corpo
Na falta de rima
No poema, no furor
Na dança de pés descalços
No passado
Na tua boca ...
Tua maldita e abençoada boca
Corpo esguio, minha flor de mármore
Tortura-me a tua falta
Saudade que enforca
Minha alma
Peso que arde ...
Fecho os olhos
Sinto-te aqui
Tuas mãos suaves, teias de aranha
Devolvem-me um fio de vida
E tua boca, tua bendita boca!
Suga o resto de mim
Para dentro de ti ...
Vício santificado
Bizarro despreendimento corpóreo
Levitação cheia de graça
Nirvana a dois
Fundida a ti
Somos um