domingo, fevereiro 20, 2005

Quem bebe dessa água?

Iano Andrade TN

José Eduardo Vilar Cunha

Já se foi o tempo em que podíamos comparar a água daqui de Natal com as de outras cidades dos estados circunvizinhos. A nossa água era leve, límpida, doce, uma delícia para se beber e não era de uso comum o filtro: bebíamos direto da torneira, tanta era a confiança de sua pureza. Em contrapartida, a água da cidade de Mossoró tinha um aspecto opaco; a de Recife, muito pesada e; a de Campina Grande, nem se fala, com muitos sais presentes. Podíamos, então, comparar a nossa água. Era muito melhor do que todas as outras dos mais diversos lugares do país.

Todo esse relato acontecia há quatro décadas, quando a cidade era pequena, tão pequena que chegávamos a ponto de conhecermos o porteiro do cinema, o vendedor de rolete, o de jornal (Cambraia) e por aí vai. Era uma época que, aos domingos pela manhã, íamos assistir à série no Cinema Rex. Depois íamos à raia do Forte jogar futebol-mirim. Pela tarde, na sessão das duas, íamos assistir um filme no cinema Rio Grande, comumente os Far West ou, então, as comedias com Anquito e Oscarito ou os filmes de Jerry Lewis. Após o cinema, lanchar uma cartola no Dia e Noite e, lá pelas seis, dançar na matinê do América.

Naquela época, as festas das Santas Padroeiras eram bem freqüentadas. Nelas havia parques de diversão com roda-gigante, cavalinhos e oferecimento de músicas. As organizadas eram a de Santa Terezinha e a da catedral, na praça André de Albuquerque.

O tempo foi passando e, com ele, chegou o progresso e a nossa cidade foi crescendo, crescendo. Apareceram os edifícios, as parias urbanizadas, os shoppings, o desemprego e a criminalidade. E o que foi feito de nossa água? Pois é, a situação desse líquido tão precioso da natureza passa por maus lençóis: a água que é levada para nossas residências é oriunda de duas fontes principais: as que vêm dos poços e as que vêm das lagoas.

A precariedade do esgotamento sanitário está presente na grande maioria dos bairros da cidade do Natal. Todavia, esse esgotamento sanitário é feito através da inserção no solo pelas fossas sépticas. A tecnologia tem demonstrado, através de ensaios de laboratório, que os lençóis de água onde estão localizados os poços de abastecimento estão contaminados dos dejetos das fossas cépticas. Neles, é encontrada uma alta concentração de nitrato que é, quimicamente, um sal derivado do ácido nítrico, líquido, incolor, muito corrosivo, que dissolve todos os metais, menos o ouro e a platina, o que implica não ser recomendado ao consumo humano.

A água que abastece a lagoa do Jíqui vem através do rio Pintibu, esse que os defensores do meio ambiente tanto falam da sua degradação e de seu estado cada vez mais deplorável, agravado à medida que os dejetos são lançados nele livremente.

Mas nem tudo está perdido. Com o progresso, também chegaram às águas das fontes minerais que, inicialmente, começaram com os copinhos; depois garrafas, passando logo para os garrafões. Nos bairros em que o poder aquisitivo é mais alto, a comunidade não tem outra saída a não ser tomar a água das fontes minerais dos garrafões. Aí você pode indagar, quem é que bebe dessa água que vem dos poços e da lagoa de Jiqui?

por Alma do Beco | 9:08 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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