Clotilde Tavares
Na segunda-feira passada, meu caro leitor, no dia 21 de maio, o poeta Luís Carlos Guimarães foi inapelavelmente chamado ao andar de cima, por aquela que Bandeira chamou "a indesejada das gentes".
A morte sempre nos deixa assim, meio desorientados, a perguntar "por que?", sem encontrar resposta, porque resposta não há.
Luís Carlos Guimarães era um dos maiores poetas que conheci, e não é só eu quem digo. Dizem isso também os seus livros: O aprendiz e a canção (1961), As cores do dia (1965), Ponto de fuga (1979), O sal da palavra (1984), A lua no espelho (1993) e O fruto maduro (1996). Excelente tradutor de autores latino-americanos, publicou 113 traições bem-intencionadas, em 1997.
Quem diz que ele era um grande, um excelente poeta são seus pares da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, à qual pertencia, e os membros do Conselho Estadual de Cultura, onde tinha assento. Quem o diz são seus inúmeros amigos e conhecidos, que se deliciavam com a sua poesia. Quem o diz é o público que se emocionava com poemas seus, como "O espelho", transcrito ao lado, que recitei um dia em um sarau, para uma platéia deslumbrada.
Quem o diz são seus amigos das últimas horas, Nei Leandro de Castro e Diógenes da Cunha Lima, com os quais passou a tarde do dia 21 tomando vinho e falando das coisas boas da vida.
Enquanto o poeta desfrutava dessa tarde festiva eu tentava localizá-lo pelo telefone para convidá-lo para a Sala de Leitura, para falar sobre o seu trabalho como tradutor. Depois de muitas tentativas, como o telefone não atendia, desisti.
Às sete e meia da noite, ao chegar em casa, ainda de pé na porta de entrada, um enfarte fulminante fez com que tombasse ao solo o doce Lula, de olhos azuis, que me achava parecida com a atriz Viveca Lindfors, por certo uma das deusas da sua juventude.
E no dia seguinte, ao ver a notícia no jornal, fiquei paralisada sentada no sofá, a me perguntar o famoso "por quê?".
Não tive coragem de ir ao velório, nem ao enterro. Fiquei a tarde em casa, olhando os passarinhos no quintal, o sol brincando nas folhas do cajueiro e a tarde que ia se esvaindo em azul, enquanto recordava o amigo, na última vez que o vi, sexta-feira dia 18, no lançamento do livro de Tarcísio Gurgel. Eu fui entrando e ele gritou logo:
- Clotilde! Olha quem está aqui! e veio trazendo pelo braço o pintor Raul Córdula. Quando eu e Raul nos abraçamos, ele disse:
- Vou deixar vocês aí conversando e saiu, feliz da vida, a conversar, a falar, e a sorrir, e a fazer os outros sorrirem.
Doce e suave Lula, de olhos azuis e sorriso de menino. Para aliviar a saudade, ele mesmo nos deixou o remédio: seus versos.
Até um dia, Lula.
Espalhem por aí a poesia de Luís Carlos Guimarães
Nei Leandro de Castro
Em 1982, no final do seu poema "Ode mínima ao enfarte do miocárdio", o poeta Luís Carlos Guimarães escrevia: "Se o enfarte vier,/ atravessarei/ a ponte de safena?"
No dia 21 de maio, segunda-feira passada, em Natal, o poeta não conseguiu atravessar a ponte de safena. Morreu dois dias antes de completar 67 anos, de um enfarte fulminante. O mais difícil de aceitar a morte de um amigo-irmão foi o fato de eu ter passado o dia inteiro na sua companhia, nesse 21 de maio. Saímos desde cedo pelos bares, bebemos muito vinho numa adega climatizada, falamos de poesia, de mulheres, de viagens. Nos despedimos às seis e meia da noite. Às sete e meia, quando tentava abrir a porta do seu apartamento, o poeta morreu.
Quem não conheceu o poeta Lula Guimarães não teve o privilégio de conhecer uma das mais belas figuras humanas deste país. Quem não conhece a sua poesia desconhece um dos melhores poetas brasileiros contemporâneos.
Luís Carlos Guimarães nasceu em Currais Novos, RN, e viveu quase toda sua vida em Natal. Estreou em poesia em 1961, com O aprendiz e a canção. Publicou: As cores do dia, 1965, Ponto de fuga, 1979, O sal da palavra, 1984, A lua no espelho, 1993, e O fruto maduro, 1996. Excelente tradutor de autores latino-americanos, publicou 113 traições bem-intencionadas, em 1997.
Amigos e amigas: espalhem por aí um pouco da poesia de Luís Carlos Guimarães. Viva a poesia.
Abraços, Nei Leandro.