(Da esquerda para a direita direita) Fcº Welforf, Lula, Rubens Lemos e Bruno Maranhão
O desbravador ou pioneiro tem como principio básico percorrer os caminhos mais difíceis, superar obstáculos e quase sempre aceitar o anonimato nas lembranças dos mais novos, quando os méritos e vitórias já possuem trilhas feitas na força e coragem dos antecessores.
Em 1980, um grupo de amigos funda em Natal um novo partido. Enfrentando oligarquias políticas, censura, preconceito e a nossa cidade seria palco de mais um fato histórico. Uma mistura de carne-de-sol com pré-presidente era o que menos os desbravadores sonhavam.
Ano de 1982. O desembarque do presidente do partido, mais dois colegas na cidade do sol para lançar a candidatura a governo de um jornalista. Encontro tímido e silencioso. A imprensa deu cobertura vigiada, desconfiada e capenga. Ainda existia a ditadura camuflada. O candidato a governador pelo novo partido os recebeu no Aeroporto Augusto Severo. A história estava começando. A avenida João Pessoa foi espaço para o primeiro comício. Não houve aglomerações, nem tumultos. Sem patrocínios, sem espaços na mídia.
Como telespectadora de alguns fatos, espantava-me ver na minha casa homens falando alto, reunidos na sala de jantar, fazendo cota para gasolina, “quebrando” cabeça para saber como iriam fazer cartazes para divulgação, arranjar carros de som. Eu e meu irmão, mesmo contra vontade, cedíamos o nosso quarto para “os companheiros”, pois não tinham como pagar diárias em hotéis. E um deles, “o barbudo”, passava a mão na minha cabeça e sorria... Até então não sabia quem era: chamavam-no por um apelido simples, comum. Quatro letras apenas. Terminou nos conquistando, e meu irmão, como um visionário, escreveu nos lastros da cama: “Aqui dormiu o futuro presidente do Brasil. Agosto de 1982”. Coisas de criança...
A movimentação era grande. Saíam por bairros, ruas e interiores. Lembro-me que não entendia o porquê de tanta conversa e empolgação, afinal a cidade já tinha candidatos fortes, ricos, preparados e de famílias tradicionais.
Criança ainda, não aceitava que alguém pudesse votar num pessoal tão estranho e desconhecido, mas passei a me acostumar com a movimentação, com candidatos a senador, deputado e governador: esse, eu podia até chamar de pai.
Sem nenhum luxo, nem carros novos, sem motoristas, sem seguranças, com bandeiras pintadas com spray, sem bonés. Mas a ideologia quando enfrenta riscos, aguça a vontade de alcançar o êxito ou marcar presença. E eles marcaram.
Simpatia de poucos eleitores, indiferença da maioria, com exceção de alguns professores universitários, poucos familiares solidários e pouquíssimos simpatizantes da nova proposta.
Atualmente, quando vejo candidatos donos de seus espaços e “entendidos” a falar sobre dificuldade e seguir carreira política por uma questão apenas de perpetuação tradicional, familiar e até numa ousadia pseudo-ideológica, é no mínimo estranho. Afinal, legenda partidária virou detalhe.
Pergunto-me se a turma de 80 faria tudo novamente.
Em 1995, com 15 anos do partido: o reconhecimento da nova geração. Pela foto, lembro os mesmos rostos: seis homens cansados, humildes e corajosos. Nada além disso.