Suposta Atlântida
É triste, é lamentável, mas é real.
Não há, diante das evidências e depoimentos já chegados à opinião pública, como esconder a lama por trás do beco do Congresso Nacional; por trás do Palácio do Planalto.
Evidenciam-se os votos parlamentares comprados, o dinheiro de empresas que trabalham para o governo usado nesse esquema; evidencia-se parte da imprensa comprometida partidariamente.
Para obter a dita governabilidade, o PT aliou-se a quem historicamente combateu porque conhecia suas práticas. Para chegar e continuar no poder, usou dessas mesmas práticas antes criticadas porque infames e dilaceradoras do ideal de democracia erigido em toda a História.
Como pode o PT Governo conviver com Robertos Jeffersons e que tais da política brasileira é a grande pergunta a ser feita, porque a ninguém é dado desconhecer a sabedoria popular que diz: dize-me com quem andas, que te direi quem és.
A podridão da sociedade brasileira está toda hoje exposta na ponta do iceberg emerso com as denúncias de quem nunca teve um mínimo de dignidade para combatê-la, porque representante conhecido de práticas intoleráveis.
A quem, no Brasil, é dado desconhecer que eleição se ganha com dinheiro e compra de votos? Que esse dinheiro sujo por vezes também compra a Justiça e é usado em palácios executivos por estados e municípios brasileiros? Aos incautos ou ingênuos, tão somente.
Nada de novo há em torno da prática política denunciada por Jefferson. O que estarrece é onde chegou e com qual desfaçatez.
Só o bem querer devotado pelo povo brasileiro ao seu presidente, o operário que construiu um sonho hoje aniquilado, isenta-o de responsabilidades maiores.
Ninguém quer sabê-lo envolvido no esquema de corrompidos e corruptores que se abateu sobre o Congresso Nacional, deixando lastro grande no seio da sociedade e no próprio Palácio do Planalto.
Mas como isentá-lo do conhecimento do fato se a prática nascia e era urdida pelos que com ele conviveram durante mais de duas décadas e fizeram-no presidente da República? Na sua ante-sala, por ministros de sua inteira confiança?
Difícil.
Os quadros diretores do PT esperaram o depoimento de Roberto Jefferson para só depois de escutar de que este não dispunha de provas do que denunciava para nele bater forte, chamá-lo de ator e mentiroso.
Mas, como ator se as evidências e testemunhos da veracidade das denúncias se confirmam a cada hora?
E se as provas, ele as tiver e estiver escondendo para hora decisiva?
A saída de Dirceu da Casa Civil e a troca de um ministro ou outro absolvem de culpa o Planalto pela prática espúria?
Não sob a ótica do povo, que cobrará nas próximas eleições o resultado disto tudo.
Fica a sensação do desconforto da descrença generalizada em tudo. Em quem acreditar.
Depois dessa tsunami de lama que iguala poderes e seus representantes, restará alguma pedra para reedificar a história da decência na política brasileira?
Honestos haverá de existir, é verdade. Onde encontrá-los é onde o nó aperta; onde o onde parece inexistir ou esconder-se nas profundezas de uma Atlântida nunca encontrada.
É essa a sensação que fica em meio ao vendaval que se abate sobre o país e que deixará seqüelas para todo o sempre.
Eduardo Alexandre
www.natalpress.com.br
16 de junho de 2005