sábado, junho 18, 2005

O PRIMEIRO BRASILEIRO 14



Em aparente liberdade, João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes sabia estar à mercê dos Potiguares. A gaiola preparada para si, porém, permanecia ali, como se a esperar qualquer deslize seu. Melhor seria aceitar a corte da jovem índia e com ela casar, como lhe era sugerido em gestos de boa vontade, e viver em harmonia com os nativos.
Por vezes, o lusitano voltava à barraca armada quando de seus primeiros dias em terras do novo mundo e ali passava dias, sem voltar à taba de Potiassu. Só Jandira o visitava, e não deixava um só dia sem que isso fizesse. Saíam para caçar, pescar, conhecer praias distantes.
Numa dessas caminhadas pela orla, João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes deparou-se com uma foz de larga embocadura, talvez de um grande rio, chamado pelos nativos de Potengi. Em sua margem esquerda, resolveu, com a ajuda da companheira de todos os dias, armar uma nova cabana, onde passaram a viver como marido e mulher.
Logo Jandira estava grávida e a notícia chegou a Potiassu, que preparou festa para comemorar. Remoendo ódio profundo, inconformado com a benevolência do chefe, e mais agora com a notícia do casamento de uma mulher de sua tribo com o invasor, o pajé Potimirim urdia planos para matá-lo.
Tempos tenebrosos para o seu povo era só o que antevia Potimirim, a cada dia mais inconformado com a presença de João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes. Matá-lo-ia, sim, na primeira oportunidade, e o mesmo faria com Jandira. Não deixaria nascer o rebento que já estufava a barriga da jovem guerreira.
Quando a lua cheia subia no horizonte de mar do dia que celebraria o casamento de Jandira com Homem da Canoa Grande, chega à tribo a notícia de que grandes embarcações descem do norte com destino sul. Preparativos desfeitos, novas providências são tomadas para aquela noite.
A primeira delas, a volta de Homem da Canoa Grande à gaiola no centro da taba.
Por trás das dunas de todo litoral circunvizinho, grupos de guerreiros espreitam os mares. Próximo ao amanhecer, a notícia se confirma: quatro embarcações cruzam os mares potiguares e se perdem de vista sob a cerração chegada com forte temporal.
Chove durante toda a manhã, impedindo a visão do horizonte.
Os índios impacientam-se e, a custo, Potiassu contém Potimirim que exige a morte do homem da canoa grande, ali, segundo ele, a esperar o resgate que viria, trazendo a morte para seu povo.
Quando cessa a cerração, sol a pino brilhando forte mais uma vez em terras e mares potiguares, nenhum sinal das embarcações é visto. A notícia de que seguiram em direção norte chega de guerreiros acampados do lado direito do Rio Grande, mas nem assim o clima de inquietação arrefece.
Aproveitando-se do alvoroço e da excitação de todos, Potimirim, num gesto de insubordinação, toma seu arco e dispara uma flecha contra João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes, não o atingindo mortalmente porque resvala na estrutura de madeira da gaiola, alojando-se em sua coxa.
Jandira corre ao chefe para levar a notícia, quando uma outra flecha é disparada por Potimirim, agora em sua direção. A mulher grávida rola por chão, enquanto guerreiros fiéis a Potiassu contêm Potimirim, já preparado para nova investida.

Eduardo Alexandre

por Alma do Beco | 7:34 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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