Mércia Carvalho, Léo Sodré, Oswaldo Orf Ribeiro,
José Torres, Meire Gomes
Meu amigo Oswaldo Ribeiro Filho, Orf para os íntimos, gosta de procurar novidades na Internet. Mês passado, ele localizou para mim um livro difícil de ser comprado por estas bandas, Forget Foucault, de Jean Baudrillard, que já se encontra em minha cabeceira, graças também à inabalável eficiência dos Correios, apesar de Maurício Marinho, Roberto Jefferson e cia. Quinta-feira, Oswaldo enviou-me o link de uma matéria da BBC Brasil, com título "Estudo mostra que ter amigos prolonga a vida".
O texto refere-se ao Estudo Longitudinal do Envelhecimento, pesquisa feita por cientistas australianos e publicada no Journal of Epidemiology e Community Health, com a conclusão de que idosos com maior círculo de amizade sobrevivem mais. "Relacionamentos escolhidos, com amigos e confidentes, se comparados a relacionamentos involuntários com familiares e crianças, nos quais há pouca interação, têm mais efeitos positivos na sobrevivência", diz Lynne Giles, um dos autores da peça científica.
Não estranhe, por favor, a expressão "um dos autores" referindo-se a uma mulher. Ocorre que a Língua Portuguesa é machista e basta um homem no grupo para o gênero masculino predominar. Lingüisticamente falando, claro. Explico-me porque pretendo viver com qualidade até o último instante. Não quero perder algum amigo, principalmente do sexo feminino, por causa de mal-entendidos gramaticais. Cada ligação perdida representa um ano a menos para quem aprecia cultivar relacionamentos.
Tenho muitos amigos e poucos inimigos. Sim, como diria Ariano Suassuna, existem os "equivocados" que me detestam. Não me queixo deles, dos inimigos, considero-os inclusive necessários ao fortalecimento da autocrítica, embora evite desperdiçar os preciosos momentos da existência terrena, que por mais longa que pareça é sempre curta, pensando no ódio alheio. Acredite: o rancor só pesa nos ombros de quem o carrega. Digo tais palavras por experiência própria. Já perdi tempo sentindo raiva.
Meu avô materno repetia duas frases ótimas, que demonstravam a força do seu caráter. Ele afirmava que não há meio-termo, "ou o sujeito é amigo ou inimigo", fazendo, porém, uma ressalva com referência, digamos, aos conhecidos que assumiam cargos importantes. "Tenha cautela quando for chamar de amigo alguém que está no poder, porque a mera ilusão do poder afeta a memória dos homens fracos". A sentença não é literal, mas o sentido dos conselhos do velho está rigorosamente preservado.
William Bennett, n'O Livro das Virtudes, adverte que a amizade "requer tempo, esforço e trabalho para ser mantida", pois "amizade é algo profundo. De fato, é uma forma de amor". Para Aristóteles, em Ética a Nicômaco, "sem amigos ninguém escolheria viver, apesar de todos os outros bens". Em Cícero, "Quem está na posse de um verdadeiro amigo vê a exata contraparte da própria alma". E Emerson, o poeta, dá a chave-de-ouro: "Amigo pode perfeitamente ser considerado a obra-prima da natureza".
Cid Augusto