
Gargalheiras
vou falar na tua boca,
nascer em verbo lá dentro,
ao som de flauta barroca,
bem lento.
vou falar nos teus cabelos,
capilar-me em pensamento,
e vou jogar teus apelos
ao vento.
vou falar na tua barriga
(de língua um piercing te invento),
talvez falar não consiga,
mas tento.
pois quero dizer-te: sim,
é de cabeça que eu entro,
no canto que entraste em mim
: no centro.
Antoniel Campos
contraponto

a minha boca adivinha
a palavra que dirás
mas não te digo a que é minha
: acertarás?
nos meus cabelos, o vento
brinca de te esconder
meu secreto pensamento
: hás de saber?
em minha pele imaginas
compor co'a língua um soneto
certo que então me alucinas
: não te prometo.
se é de cabeça que entras
meu coração, digo eu
mesmo que a ti não pareça
: inda é só meu.
Márcia Maia