sábado, abril 09, 2005

DANÇA, BOLERO, MÃOS E MAR

Alexandro Gurgel

Antoniel Campos


bandoneonamente,
a mão, no gesto, dança por primeiro.
nada importa, tudo é sim daqui pra frente...

cada minuto como fosse o derradeiro,
pois todo tempo é sempre urgente.

a mão que pega a mão que deixa inteiro
o corpo ao corpo e o rosto ao rosto rente.

a mão que desce ao côncavo das costas,
as pernas que se encontram e se entrelaçam.

à altura dos ombros, as mãos postas.
e antes que se dance, mais se abraçam.

o olhar fala de um gesto de início.
o par imóvel, o chão é quem desliza.

cada acorde que sucede é mais propício
à mão que agora é boca e o corpo alisa...

a brisa vem do hálito em comum,
e, ao tempo em que aspira, embaça o queixo.

os cheiros se confundem. dois é um.
o teu em mim e o meu que eu te deixo.

a fala não carece, mas eu quero
dizer coisa qualquer, feito um murmúrio,

que dance, feito a gente, esse bolero,
e invada cada vão desse tugúrio...

dizer a não-dizer, mas só querer
que o que eu não disse, mais por isso eu disse,

pois só quem não sentiu tem que dizer
do que pensou sentir, sem que sentisse.

então eu falo a ti, eu te murmuro...
te digo, te confesso, te segredo.

a lâmpada transformo em escuro,
a luz, a dos teus lábios no meu dedo...

teu beijo que interrompe a minha fala,
o pouso que eu encontro em teu pescoço...

nós dois nesse silêncio que não cala,
os olhos a dizer nosso alvoroço...

a música termina e não termina,
a dança mal começa e já faz horas...

só sei dizer a ti "minha menina,
contigo todo tempo é sempre agora..."

à porta nos convida a madrugada,
e eu giro, incontinênti, a maçaneta...

e tu, já por meus olhos desnudada,
te vestes de noir e violeta...

lá fora, ainda o som, mais a varanda,
e à frente da varanda, só o mar...

e aquém do mar e além dessa varanda,
a areia, toda ela, pra te amar...


Antoniel Campos

por Alma do Beco | 12:11 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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