Márcia Maia
1-
Para ser um poeta respeitado
há que ter a modéstia que ensina
que a Poesia se faz em separado
que não é uma escolha mas é sina.
Que às vezes é fardo bem pesado
outras vezes é vinho que alucina
é estar vez em quando apaixonado
por um mundo que inteiro o abomina.
Ora a luz ora a treva sem que avise-se
ao poeta o que nele se inscreveu
o que faz com que sempre ele motive-se
a escrever sem pensar se alguém o leu
vendo a vida através de um outro olhar
indo além dos que o nunca irão notar.
2-
Mas para ser um poeta engajado
use a cabeça. Freqüente a mais fina
inteligentsia. E esqueça o passado
(nele o futuro se perde e termina.).
Os lançamentos? Esteja antenado
e vá a todos. Poeta (ah!) opina:
esta é a regra. Não fique amuado
se por acaso o que leu não combina
com o seu gosto: que pena! Atualize-se!
(Sem esquecer de fingir que entendeu
e que curtiu.) Sendo assim: vanguardize-se!
E vez em quando declame algo seu
sem pretender algum 'mestre' ofuscar
: queiram ou não haverão de o notar.
3-
Já para ser um poeta aclamado
há que tecer um plano na surdina
comparecer ao brunch combinado
sem esquecer de usar roupa bem fina
(Prada — decerto! — parece adequado).
Diga de cor Proust Pound e Coralina
o Finnegans wake Dante e Machado:
sem hesitar! (E fecha-se a cortina).
Fundamental é ter: bem valorize-se
enaltecendo assim o que escreveu
e lá e aqui ressalte alguns matizes
originais de algum poema seu.
Um imortal pode ouvi-lo e gostar
: grande poeta! enfim hão de o chamar.