sábado, fevereiro 19, 2005

Shimmy


PARA MÁRIO DE ANDRADE


O SOL LHE BATE DE CHAPA

D’UM BESOURO O BRILHO ESCAPA

BRANCO, NEGRO, OURO E MEL.

ROLA, RECUA E SE ATIRA

VOLTA, SE ENCOLHE E SE ESTIRA

O DORSO DA CASCAVEL.


O CORPO INTEIRO PALPITA

A PELE SE ARRUGA E AGITA,

A LÍNGUA FINA DARDEIA

E TREME E ESTORCE E AVANÇA

E ESTACA, E DEMORA E CANSA

ONDULA, VAGA, VOLTEIA.


SILVA, RONCA, BUFA E SOA

O MARACÁ QUE REBOA

E TUDO DANÇA NO PÓ.

ALONGA A BELEZA TOSCA

DA PELE QUE VAI E ENROSCA

E FICA TREMENDO SÓ...


O DORSO ACURVA, SE ENROLA

COMO O FIO DE UMA MOLA

INCHA, SOPRA, ENGORDA, CRESCE,

SOBE, PARA, VOLTA E CORRE

O BRILHO NO LOMBO ESCORRE

VIBRA, ESTALA, ESPICHA, DESCE...


VAI PARANDO O MOVIMENTO

O MARACÁ CEDE AO VENTO

E FICA SOANDO MAL.

DE PRONTO SACODE O LAÇO

COMO UMA MOLA DE AÇO

SUBINDO NUMA ESPIRAL.


INDA VIBRA, MEXE E BOLE

O CORPO ANEGRADO E MOLE

SUSTÉM O COMPASSO ENFIM.

CEDE A CADÊNCIA DA DANÇA

PARA O CHOCALHO, DESCANSA

E TUDO CESSA POR FIM.


LUÍS DA CÂMARA CASCUDO

por Alma do Beco | 2:56 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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