sexta-feira, fevereiro 18, 2005

A poesia visual no Nordeste do Brasil

Jota Medeiros
Arte: Jota Medeiros



por J. MEDEIROS



... remonta aos nossos ancestrais, o "Grupo G", antecessores dos índios Cariris, Potiguares, Paiacús, Janduís, que expressaram o seu imaginário poético através da iconografia impressa nas paredes das cavernas, a exemplo do grande poema-mural, do lajedo de Soledade, na chapada do Apodi, Rio Grande do Norte. Seria o poeta baiano Gregório de Matos, o pioneiro da nossa visualidade poética, ainda no século XVI.

O artista/correio Paulo Bruscky, autor da importante mostra de "Poesia de Vanguarda do Nordeste Brasileiro", ocorrida em 1995, em Recife, João Pessoa e Natal; descobre os poemas acrósticos, de Frei João do Rosário, datados de 1753, e cita mais adiante o poeta piauiense "Da Costa e Silva", o mais inventivo simbolista brasileiro, sem esquecer um determinado soneto do baiano Castro Alves, precursores da nossa poética visual.

Em 1927, Câmara Cascudo edita através da Typografia d'A Imprensa, o marco zero da poesia marginal dos setentas, o revolucionário "Livro de Poemas de Jorge Fernandes", em que evidencia-se a invenção semântico/formal, o objeto
(precário) como expressão meta-irônica, além da forma caligramática com que grafou o verso "Suspensa...", no poema "Rede".

Em 1941, é publicado o livro "Poemas de Bolso" do poeta/pintor pernambucano,Vicente do Rego Monteiro, autor do "Poema 100% Nacional", de nítido caráter visual conceitual, no mesmo ano em que o alagoano Jorge de Lima produzira as suas poesias foto-plásticas. Em 1952, Rego Monteiro publica em Paris o livro "Concreción", poemas-minutos contemporâneos do potiguar, José Bezerra Gomes, atentando para uma antropofagia oswaldiana de ascência minimalista concreta.

Nos anos 1957/59, foram realizadas duas mostras de poesia concreta no Estado do Ceará, tendo à frente o poeta José Aucides Pinto. Entre os poetas nordestinos que participaram direta e/ou indiretamente do movimento concreto, podemos citar o maranhense Ferreira Gullar, autor do neo-concretismo; o baiano Clarival do Prado Valladares; o alagoano Edgard Braga e os pernambucanos Manuel Bandeira, Pedro Xisto e Joaquim Cardoso. No Rio Grande do Norte, o poeta Luiz Rabelo produz o livro "O Espaço Concretista", em 1957. O poema "Lãmina" antecipa em quase uma década as futuras experimentações visuais/processuais, em que o poeta expressa conceitualmente o branco absoluto, em plena sincronia suprematista malevitcheana.


Em seu livro "Por uma Vanguarda Nordestina", Anchieta Fernandes discorre acerca do "Grupo Dés" (homenagem mallarmeana), que em dezembro de 1966 "anunciava o lançamento da Poesia Concreta " no Estado do Rio Grande do
Norte, "a I Exposição de Poesia Concreta do Natal, reapresentando poemas-cartazes de Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos, Wlademir Dias Pino, Ronaldo Azeredo, Edgard Braga, Osmar Dillon e José Lino Grenwewald e apresentando poemas dos norte-rio-grandenses Nei Leandro de Castro, Dailor Varela, Luis Carlos Guimarães, João Bosco Almeida e Anchieta Fernandes".

"Depois de um ano de atuação/criação da Poesia Concreta no Rio Grande do Norte, estava preparado o terreno para o surgimento de pesquisas mais amplas, ou seja: para um novo movimento revolucionador do campo operatório do poema, além da literatura, além dos limites estruturais da Poesia Concreta. Em 11 de dezembro de 1967 simultaneamente com o Rio de Janeiro, acontecia em Natal a primeira exposição do Poema/Processo, denominada entre nós com o título de "Explo-2".

Em 1970, o poeta cearense Pedro Lira lança através do Jornal do Brasil, o "Manifesto do Poema Postal". No início dessa década, surge o movimento internacional da Arte Correio, do qual participaram ativamente, do Rio Grande do Norte: J. Medeiros, Falves Silva, Carlos Jucá, Venâncio Pinheiro, Avelino de Araújo, Roberto Sant'anna, Carlos Humberto Dantas, entre outros; da Paraíba, Unhandeijara Lisboa, Pedro Osmar, Paulo Ró e outros; de Pernambuco, Bruscky e Santiago, Leonard Frank Duch, Montez Magno, Ypiranga Filho, Ivan Maurício, entre outros; da Bahia, Almandrade; do Ceará, Maynand Sobral, Hélio Rola, Bené Fonteles...

Foram muitos os eventos multimedia realizados no Nordeste, especificamente no "triângulo amoroso" Natal, João Pessoa, Recife. Festivais de Arte, intercâmbio de idéias, performances, entre outras ações. Data de 1975 a "I Exposição Internacional de Arte Postal", organizada por Paulo Bruscky, Daniel Santiago e Ypiranga Filho. Seguiram-se outras mostras e eventos postais. Foram criados os Cambiu (Centros da Arte Marginal Brasileira de Informação e União), tendo como suporte múltiplas publicações, como Povis/Projeto (RN), Multipostais (PE), Karimbada (PB)... num permanente intercâmbio com o mundo.
A "Expoética 77" ocorrida em Natal, mostra comemorativa dos 10 anos de poema/processo veio revelar as novas tendências poéticas praticadas no mundo, evidenciando-se a Arte/Correio como meio (internet) da época propulsora desta grande rede (network) da atualidade.

Um ano após, 1978, J. Medeiros realiza o "Poema por Telefone", censurado. Em Recife os "10 anos de poema/processo foram comemorados antecipadamente em 14 de março (Dia Nacional da Poesia), com o projeto "Poesia Viva", idealizado por Paulo Bruscky e Unhandeijara Lisboa. São inúmeros os eventos realizados, que aqui não caberia mencionar. De passagem, podemos citar momentos importantes, propulsores de novas práticas poéticas, a exemplo dos Festivais de Inverno da Unicap, em Recife e os Festivais de Artes do Natal. Em 1982 acontece o I Seminário de Semiótica e Arte na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a criação do Setor de Multimedia, do NAC/UFRN e em seguida, 1983, a I Multimedia. A década de 80, portanto, se caracterizaria com essa forte e atuante presença dos multimeios artísticos: art door, vídeo art, computer art, intervenções urbanas...


Durante a década dos noventas, dois importantes eventos marcaram o nosso panorama poético. O primeiro, foi a Mostra Nacional de Poesia Visual (1995), realizada na Galeria Conviv'art/NAC/UFRN e que teve como curadores J.
Medeiros, Bianor Paulino, Falves Silva e Avelino de Araújo, culminando no ano seguinte com a Mostra Internacional (comemorativa dos 40 anos da Poesia Concreta), inaugurada por Décio Pignatari, sob a nossa curadoria. São muitas as experiências realizadas pelos poetas (multimedia) nordestinos, utilizando-se de todos os meios possíveis, dos processos mais primitivos aos mais contemporâneos nesta era da e-mail art.

Caberia destacar o vídeo "Galáxias", (Joel Carvalho e J. Medeiros), uma versão "estrutural" do poema homônimo, de Haroldo de Campos. As instalações ambientais de Sayonara Pinheiro aliada a mais sofisticada poesia sonora do poeta experimental português Américo Rodrigues; ainda as experiências dos norte-rio-grandenses Henrique José, Franklin Capistrano e Fábio di Ojuara, e os experimentos eletro-acústicos de Carito e Edu Gomes. Em Pernambuco, surgem outros novos produtores, a exemplo de Murillo, Delmo Montenegro e Bruno Monteiro; Na Bahia, o poeta Almandrade continua atuante, com a sua proposta Conceitual, evidenciando-se toda uma tradição poética de vanguarda registrada nos números da Revista Código, editada por Erthos Albino de Souza.

No Piauí, podemos mencionar nomes como Francisco Miguel de Moura e mais recentemente Rubervan du Nascimento, que coordenou em 1994 a Mostra Visual de Poesia Brasileira, uma homenagem aos cinquenta anos do poeta Torquato Neto - ícone da antropofagia marginal dos 70's. Este quase-perfil cronológico aqui traçado vem afirmar toda uma tradição de vanguarda, desde a visão futurista do potiguar Manuel Dantas (ver conferência "Natal daqui a 50 anos") realizada em 21 de março de 1909, no mesmo ano da publicação do "Manifesto Futurista", originalmente no jornal Le Figaro, de Paris e logo em seguida, no Brasil, no jornal "A República", em Natal, através do supracitado autor.

Eis, a POESIA NORDESTINA DE INVENÇÃO.

por Alma do Beco | 11:17 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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