Edgar Allan Pôla
Meninas são meninas e elas se sensibilizaram diante da conversa do turco Pedro Abech.
- Dia 19 é meu aniversário e, fora a asa, o coração, a lingüiça, essas coisas do churrasco e a bebida, o resto é por minha conta.
Cantados os parabéns, porque foram vários, elas tiraram de uma bolsa um cotizado presente para Pedrinho: um Balantaines.
Luciano de Almeida estava injuriado por conta dos Antigos Carnavais, a festa de Gutemberg Costa, que levara o povo para dentro da Capitania onde um bar monopolizava a venda exclusiva de isquincariol a um e cinqüenta, enquanto a turma do isonor estava, lá fora, vendendo outras marcas a um.
- Quando a banda chegou na Ribeira e fez a parada na Peixada Potengi, foi um absurdo. O cara me cobrou cinco contos numa meia dose de blaque e uaite... Quando reclamei, ele balançou o copo para o uísque descer e tentar me enganar.
Na verdade, a estória ficou por isso mesmo até que Serrão lembrou:
- As doses do turco também são como essa, Luciano. A diferença é que, com todos os tiques do mundo, quando a dose chega, já está devidamente balançada e o gelo já subiu.
Pedrinho mostra o presente que ganhou, dizendo que é para mais tarde e Luciano, então, diante de tal promessa, passa a sorver o seu professor vagarosamente, com muita moderação e longas pausas, esperando o Balantaines ser servido.
Ivone serve um creme de frango num prato médio de plástico e a festa tem seqüências sem anormalidades.
O turco, em seu aniversário, estranhamente, vez em quando, dava umas esquisitas mostras de generosidade. O assunto do dia rolava por conta do orelhão dos fundos da casa do padre. O bicho estava engolindo tudo quanto era cartão.
Humorado, Pedrinho não perdeu chance:
- Não sei porquê, mas esse orelhão tá com uma larica daquelas...
Só com dois contos miúdos no bolso e depois de uma conversa com Husseim no laricado, Luciano sugere:
- Pedrinho, sai uma dose de dois reais?
Dia de generosidade inconteste, o turco vira, abre a boca tortamente umas três vezes, faz que fala, mas não fala, se abana com a mão direita, com a esquerda, retorce a cabeça, dá de ombros, bota a ponta do pé diante do corpo, torce e retorce a perna e dá o veredito:
- Mas claro!
E chamando a consorte:
- Ivone, bote aí uma dosezinha para Luciano.
Atento, Eduardo não perdeu oportunidade para alfinetar o turco avarento.
- Tá vendo... Nem no dia do seu aniversário esse turco tem cura. Se fosse uma dose ao preço normal, ele diria: Ivone, bote aí mais uma dose para Luciano.
O turco, quando apercebeu-se da sutileza, ficou magoado diante da evidente constatação e encabulou. Diminuir sua generosidade era demais!
Mas o fato é que Luciano foi embora e o Balantaines ficou para depois:
- Na Sexta, a gente toma, Luciano...