sexta-feira, fevereiro 18, 2005

Simona e Luiz Gadelha

Música Potiguar
O retorno dos filhos pródigos
Luiz Gadelha e Simona Talma, depois de uma "temporada de aventuras" em Salvador, voltam para Natal valorizando a cultura e o espaço conquistado pelo artista potiguar



Simona

Marcílio Amorim
Repórter
O Jornal de Hoje

A reclamação sempre foi generalizada: dez entre dez artistas potiguares são insatisfeitos com a cena cultural da cidade. Na área musical, apesar do campo e das possibilidades de trabalho serem mais amplas e a execução do seu fazer artístico envolver um aparato bem menos complexo do que artes como o teatro e dança, os músicos também fazem parte do grosso coro da insatisfação. De A a Z, todos têm um pouquinho do que se queixar. Falta de espaços para shows, baixos cachês, falta de reconhecimento do público, dificuldades com patrocínio e o desinteresse das rádios são algumas das reclamações.
A migração é comum na classe artística, muitos se cansam de tentar e partem - com seu trabalho, sonhos e talento nas costas - para arriscar uma carreira em outras praças. Este foi o caso da dupla de cantores Luiz Gadelha (Ex-Wellington Luys) e Simona Talma, que largaram tudo em Natal, para descobrir em Salvador que o nosso Estado não é o vilão da arte nordestina e que aqui se valoriza sim a arte que produz.
Luiz e Simona fazem parte da nova geração da música potiguar, têm um dos trabalhos mais inovadores da cidade, com uma proposta de composição apontada para o futuro e uma tendência forte a musicar poemas. Luiz Gadelha ainda era Wellington Luys quando lançou o seu único CD ("Flor de Mim"), em 2001, e logo em seguida passou uma temporada de dois anos no Rio de Janeiro. Na cidade maravilhosa ele trabalhou bastante, flertou com a música eletrônica e se deixou influenciar por ares mais cosmopolitas. Já Simona sempre foi parceira de Luiz em sua trajetória. Aluna do curso de música da UFRN, a cantora é novata na noite potiguar. Embora já venha maturando seu trabalho com uma veia forte de composição, a cantora só mostrou a cara e voz de verdade em 2003, com o show "A lua e eu".
A dupla partiu em direção a terra do axé em novembro do ano passado. "Foi tudo na aventura, tínhamos curiosidade em conhecer a cena baiana, para saber o que acontece com a música de uma cidade tão movimentada como Salvador", afirma Luiz Gadelha. O interesse girava em torno de gêneros específicos, como o Rock Baiano que revelou grupos como Penélope e a cantora Pitty e num passado mais distante, mudou o rumo do rock and roll tupiniquim com o performático Raul Seixas; sem falar na MPB temperada com dendê de Caetano, Gil, Gal, Bethânia e os Novos Baianos, todos influenciadores do trabalho dos dois artistas.
Na bagagem, violões, letras, força de vontade e duas demos, uma de cada. E assim a dupla partiu rumo a 'terra da felicidade', como dizem os próprios baianos. Não havia expectativa exata, mais sim uma disposição de viver outras coisas e talvez entabular uma carreira numa capital mais próspera musicalmente do que Natal. "Não fizemos contatos prévios e nem buscamos informações. O que sabíamos não nos dava segurança", afirma Simona Talma.
A época escolhida não foi das melhores, o início do verão e a proximidade do carnaval - a folia baiana começa muito antes do reinado de momo, quando não dura o ano inteiro - descaracterizam o cotidiano da cidade. "Chegamos numa época complicada", relembra o cantor. Mesmo assim, os dois alugaram um apartamento e foram à luta. De cara, eles notaram a ausência de MPB ao vivo nos bares que encontravam, mas logo conseguiram abrir o show do cantor de blues Júlio Caldas, sobrinho do 'Rei do Fricote' e pai do axé, Luiz Caldas. No restante dos meses eles fizeram uma temporada num bar do circuito underground do Centro Histórico do Pelourinho, o bar "Mercury"; mas qualquer ligação com o sobrenome da cantora baiana é mera coincidência. "Ficamos tocando no Mercury enquanto estávamos em Salvador", disse Simona. "O interessante é que de onde tocávamos dava pra ver uma quantidade gigantesca de pessoas passando para lá e para cá, parecia até uma espécie de trio elétrico", complementa Gadelha.
A cidade de Salvador realmente surpreendeu os dois cantores. O cachê não era lá essas coisas, os espaços para shows idem e não existiam possibilidades para a carreira da dupla. Tudo era tão difícil quanto Natal, quando não parecia bem pior. "A relação do baiano com a MPB é sem muito compromisso, tudo que envolve o gênero se concentra em pequenos guetos de admiradores. Talvez, seja a vertente baiana que menos se desenvolve musicalmente", afirma Luiz Gadelha, com sua nova visão.
Mas num ponto positivo a cidade supera Natal. O público baiano valoriza muito mais um artista desconhecido, agindo com curiosidade e com interesse a novos nomes, novos trabalhos e novas propostas. "A impressão que se dá é que eles prestam atenção de verdade, pois a cantora da calçada de hoje, pode ser a Ivete Sangalo de amanhã", diz Simona. Numa cidade tão artística e inspiradora, era de se esperar que o tratamento com a arte seja superior. "Quando alguém está começando, eles fazem questão de olhar", disse.
Desde o dia 24 de janeiro a dupla resolveu largar a carreira baiana e voltar para casa. "A gente precisou sair de Natal para valorizar alguns pontos da nossa cidade", diz Luiz Gadelha constatando a forte ligação do potiguar com a MPB. "Ficamos muito felizes quando voltamos a caminhar pela noite e vimos cinco bares seguidos com MPB ao vivo", completa.
Dos males o menor, a experiência deu uma reformulada e modificou a fase artística atravessada pelos parceiros. O tempo livre era inteiramente dedicado à composição. "A gente compôs muito, dá até para fazer um repertório só da nossa fase baiana", brinca Simona.

Luiz Gadelha



Retornando...
Sem sotaque baiano e com muita saudade de casa, a dupla desembarcou em Natal amando ainda mais a sua terra e com disposição para continuar o trabalho plantado na cidade que os viu nascer.
Luiz Gadelha e Simona Talma prepararam um CD Demo antes de viajar, mas que não foi divulgado nem lançado na capital potiguar. "A demo ficou pronta nas vésperas da viagem", justificam.
Em 'Apaixonada Poesia Música Louca', Luiz Gadelha encerra a fase iniciada em 'Flor de Mim', em 20 faixas. "Precisava mostrar outra faceta que não estava presente no disco, mas que hoje já não me representa mais", disse o cantor. O fato da demo ter 20 faixas e não ser tratado como um CD de carreira é prontamente explicado. "Chamamos de demo pelo descompromisso da gravação, não fizemos arranjos rebuscados, queríamos centrar o foco na letra e na poesia, sem exigências do público", define Luiz.
Entre as canções selecionadas, músicas próprias, parcerias com Simona, uma regravação do Roberto (uma das grandes paixões e influências musicais de Gadelha), outra de Fagner e diversas parcerias. Destaque para a música 'En mis brazos', de Simona Talma.
Já o primeiro registro fonográfico de Simona vem sob o título de 'Guarde para os dias de chuva', inspirada no título de uma canção da cantora Sylvia Patrícia. Nele, a potiguar experimenta o seu primeiro registro fonográfico oficial. "É a minha apresentação como compositora, precisava me mostrar" disse.
As treze faixas do disco são distribuídas em três parcerias, três regravações, uma canção de Luiz Gadelha e uma própria, além de poemas musicados dos poetas Paulo Leminski, Carlos Gurgel e Mário Quintana.
Os cantores têm uma parte do disco gravada em shows ao vivo e outra gravada nas dependências do Ícone Estúdio. É raro encontrar semelhança nos trabalhos dos dois potiguares, embora façam tudo juntos e tenha uma trajetória que se funde em vários momentos. "Apesar de interferimos no processo um do outro, cada demo é uma proposta. Temos carreira, objetivos e focos diferentes, apenas somamos força", deixa bem claro a cantora Simona.
Nos planos estão shows para divulgar a demo, "mas antes precisamos de mais respostas com relação ao nosso trabalho". A data dos shows será divulgada em breve.
Para os interessados, as demos não estão a venda. A dupla está distribuindo para as pessoas que realmente se interessarem pelo trabalho. Para tentar convencer e levar o seu, acesse o blog dos cantores e jogue o seu xaveco. O endereço é:
www.simona.weblogger.com.br ou www.luizgadelha.weblogger.com.br. Contato para shows 9924-7707/3091-1269.

por Alma do Beco | 11:06 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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