No Beco
Violões juntam-se a vozes
Nas tardes de sábados
Noites de qualquer segunda-feira
Para o Beco vão os pedintes
Em busca da sopa
De um cigarro
De algo qualquer
Jornalistas, poetas, doutores
Caminho de deserdados
O Beco foi a lama da cidade
Hoje é alma e cana
Paraíso etílico
Recanto de comida gorda:
Costela, rabada
Buchada
Charque na fava
Pirão no cozido de peixe
No Beco
As vozes se soltam
As que cantam
As que falam
Mal da vida alheia
Exposição diária de vida
E de vida difícil também
Onde explode o riso
Soltam-se almas fechadas
Em duros corações
A meladinha,
No Beco
Dá o tom do discurso
Na batuta do maestro
Eduardo Alexandre
27 de fevereiro de 2005