Diário de Natal / 26 de setembro de 2001
O tombo das torres gêmeas do World Trade Center de Nova Iorque representa para a humanidade também um início de estado de alerta contra a barbárie imposta ao mundo pelo imperialismo globalizado. Antes de ser um ato terrorista, a ação contra o simbolismo do império americano foi um ato de barbárie contra a barbárie.
Barbárie imposta ao mundo pela grande concentração de capital nas mãos de poucos, enquanto as grandes massas humanas passam por necessidades de toda ordem. Ao acúmulo dos poucos, resulta a subtração a milhões de miseráveis sem direito a vida, espalhados pelos quatro cantos da Terra.
A barbárie está na falta de comida e na desassistência à saúde, à educação, à moradia de bilhões de indivíduos. O fundamental hoje é o reconhecimento de que esta não é uma guerra religiosa; não é uma guerra de nações contra nações.
Há 150 anos, Marx alertava: a concentração do capital irá gerar a barbárie. E a barbárie está há muito presente ao planeta, enquanto a grande águia americana ostenta a opulência de um povo que não olha em sua volta.
Contra a barbárie da miséria latino-americana, o capitalismo americano impôs o muro da fronteira mexicana. Contra a barbárie do genocídio palestino, os grandes investidores ianques endossam a barbárie do megamilionário mercado de armas.
As mortes diárias dos grandes centros, corpos tombados diante da violenta reação humana contra a pobreza, somam-se em números maiores que as conseqüentes do ato da guerra não declarada contra o império americano. A barbárie do cotidiano humano está nas páginas de qualquer jornal do mundo. O tio rico do norte, no entanto, nunca fez questao de lê-los. Sam nunca se preocupou com nada que não fosse o aumento de sua própria riqueza. Como o tio milionário da ficção dos comic books, o Patinhas, ele amealha e não acena com qualquer gesto de humanidade, dando ao mundo uma chance de paz e vida digna para todos.
Subtrai; explora; escraviza.
Os necessitados do mundo não querem nem lutam por caridade. Exigem justiça e uma ordem mundial que busque o equilíbrio econômico e dê a todos o direito de viver.
O xerife do mundo tem diante de si uma guerra diferente; guerra que exige prudência e táticas também primárias como os estiletes responsáveis pelo desastre de Manhattan. Não será a guerra nuclear que resolverá a questão. Nada de explosões ou recorrência à força bruta: o trabalho da inteligência, muito mais, será o fator determinante de uma resposta racional ao ato que humilhou e expôs ao mundo a fragilidade do gigante.
A paz que reinava em terras da América já não mais existe. As populações das grandes, médias e pequenas cidades dos estados americanos vivem hoje sob o domínio do medo, sem a consciência de como e onde será a reação sem rosto do inimigo.
Da mesma forma que Bush ameaça países que abriguem terroristas anti-imperialistas, pessoas de bom senso de todo o mundo se unem contra o requisitado direito de assassinato de qualquer cidadão do mundo sem julgamento.
A barbárie americana chega para ameaçar o Direito Universal. E já não serão mais os poucos países islâmicos que se insurgirão contra o xerife do mundo, mas populações esclarecidas de países ocidentais e até cidadãos americanos.
Contra a barbárie imposta pela política internacional americana, o mundo viu ao vivo a barbárie de uma resposta irracional e cruel. Ou a nova ordem é estabelecida em bases humanitárias sólidas, ou o capitalismo globalizado, por responsabilidade, implodirá o mundo em ações primárias de grandes resultados.
A reflexão fica para que não se encubra com manto religioso uma questão eminentemente política: o barbarismo político americano, mais que os suicidas do novo terrorismo mundial, ameaça a humanidade de uma forma concreta e cotidiana, merecendo dos seus mentores uma revisão que traga ao mundo a paz por todos desejada.
Eduardo Alexandre de Amorim Garcia