Expo na parede do Mercadinho São Cristóvão, Rua Cel Cascudo
Plínio Sanderson
Sobrevivente dos tempos de chumbo,
tínhamos nos muros espaços livres de manifestações
contra a corja militarista escrota que assolava o país.
A ditadura era onipresente nas mídias
impossibilitava exacerbação contrária ao regime.
Nesse contexto o grafite eclodiu
como praxis de uma militância desarticulada e pueril.
Saíamos em farra com sprays,
dubles de poetas, filósofos e revolucionários,
travestidos de shaksprey.
Alguns até hoje povoa o imaginário dos remanescentes:
"Lombrax, Mandrix, Mandrake, Cadê Hendrix?";
"Reta Arte, Lama Alma";
"Não Vote, Revolte: Arrote!";
"Sensibilis Brother, Inconsciência Não Doí!";
"O ódio Madruga na Afundação Cultural";
"Eu Dou o Tiro, Quem Mata é Deus";
"Turistas: Go Home...".
Nos tempos atuais, com o advento da demo(n)cracia na ética imperante,
a pichação é considerada politicamente incorreta e até poluidora visual.
Os frequentadores anódinos de Nazaré (leia-se: Bar Fecha às Dez)
iniciaram um processo de vandalismo estético que repercute nos meios e e-mails becolamenses,
o desenho do manjado ícone bucetista deixado despretensiosamente
entre um gole e uma visita ao W.C do supraboteco,
tornando a caneta um assessório indispensável na incursão.
Nazaré, com seu humor característico,
está criando um rumor de caça ao diletante pichador,
excomungando o pobre artista e prometendo exilá-lo caso descubra sua identidade.
Facções defensoras dos melhores preceitos da TFP e dos Clubes da Luluzinha & Afins,
também soltaram o verbo ao esconjurado meliante,
proferindo jargões feministas em prol da moralidade decadensexista.
Nós que edificamos barricadas contra quaisquer formas veladas (ou não) de censura,
exercitamos a libido e a arte em todas as nuances,
desenvolvemos alguns estratagemas para manter a invasão das priquitinhas
no recinto criativo e manter anônimo o inspirado panfletário.
A primeira, consiste em engarrafar a fila na ida ao banheiro
onde vários freqüentadores ao mesmo tempo agora utilizarem o mijador,
saindo todos no mesmo instante, impossibilitando a identificação do afortunado.
A Segunda é começar a desenhá-las em lugares de pouca visibilidade,
perto de locais onde a pintura/parede esteja deteriorada,
escondendo as ditosas pererecas até que o banheiro esteja repleto numa revolta de bucetinhas
já se constituindo uma instalação insofismável.
Enfim, liberdade para as pererecas, tabacos, bucetinhas, priquitinhas, xoxotinhas e vulvas sacrossantas
Abaixo as hipocrisias dissimuladas,
o Beco é dadaísta, é território de livre manifestações,
o resto são bobagens de mentes tacanhas e preconceituosas...