domingo, fevereiro 27, 2005

Milacrias & bucetinhas


Expo na parede do Mercadinho São Cristóvão, Rua Cel Cascudo

Plínio Sanderson

Sobrevivente dos tempos de chumbo,

tínhamos nos muros espaços livres de manifestações

contra a corja militarista escrota que assolava o país.

A ditadura era onipresente nas mídias

impossibilitava exacerbação contrária ao regime.

Nesse contexto o grafite eclodiu

como praxis de uma militância desarticulada e pueril.



Saíamos em farra com sprays,

dubles de poetas, filósofos e revolucionários,

travestidos de shaksprey.

Alguns até hoje povoa o imaginário dos remanescentes:

"Lombrax, Mandrix, Mandrake, Cadê Hendrix?";

"Reta Arte, Lama Alma";

"Não Vote, Revolte: Arrote!";

"Sensibilis Brother, Inconsciência Não Doí!";

"O ódio Madruga na Afundação Cultural";

"Eu Dou o Tiro, Quem Mata é Deus";

"Turistas: Go Home...".



Nos tempos atuais, com o advento da demo(n)cracia na ética imperante,

a pichação é considerada politicamente incorreta e até poluidora visual.

Os frequentadores anódinos de Nazaré (leia-se: Bar Fecha às Dez)

iniciaram um processo de vandalismo estético que repercute nos meios e e-mails becolamenses,

o desenho do manjado ícone bucetista deixado despretensiosamente

entre um gole e uma visita ao W.C do supraboteco,

tornando a caneta um assessório indispensável na incursão.

Nazaré, com seu humor característico,

está criando um rumor de caça ao diletante pichador,

excomungando o pobre artista e prometendo exilá-lo caso descubra sua identidade.



Facções defensoras dos melhores preceitos da TFP e dos Clubes da Luluzinha & Afins,

também soltaram o verbo ao esconjurado meliante,

proferindo jargões feministas em prol da moralidade decadensexista.



Nós que edificamos barricadas contra quaisquer formas veladas (ou não) de censura,

exercitamos a libido e a arte em todas as nuances,

desenvolvemos alguns estratagemas para manter a invasão das priquitinhas

no recinto criativo e manter anônimo o inspirado panfletário.



A primeira, consiste em engarrafar a fila na ida ao banheiro

onde vários freqüentadores ao mesmo tempo agora utilizarem o mijador,

saindo todos no mesmo instante, impossibilitando a identificação do afortunado.


A Segunda é começar a desenhá-las em lugares de pouca visibilidade,

perto de locais onde a pintura/parede esteja deteriorada,

escondendo as ditosas pererecas até que o banheiro esteja repleto numa revolta de bucetinhas

já se constituindo uma instalação insofismável.



Enfim, liberdade para as pererecas, tabacos, bucetinhas, priquitinhas, xoxotinhas e vulvas sacrossantas

Abaixo as hipocrisias dissimuladas,

o Beco é dadaísta, é território de livre manifestações,

o resto são bobagens de mentes tacanhas e preconceituosas...

por Alma do Beco | 8:11 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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Praieira
(Serenata do Pescador)


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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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