sábado, janeiro 29, 2005

Três poemas de Cristina Tinôco

DESEJO

O que é o desejo
senão na possibilidade do beijo
sentir o gosto da minha boca
através da tua.

Que é o desejo
senão descobrir-me através de ti
sentir em tuas mãos o contorno do meu corpo
coxas, ventre e seios
em carícias sem rodeios.

Que é o desejo
Senão querer ser querida
E como brasa numa grande fogueira
Deixar-me consumir
Deixar-me possuir
Alimentado o algoz
Queimando em fogo feroz
Até não mais existir

Que é o desejo
Senão uma grande ansiedade
Mola que impulsiona meu viver
Que me faz procurar-te por toda cidade
Que me deixa louca de saudade
Sempre querendo te ter?

Pois se te tenho
Encontro-me
Em ti me descubro

Teu prazer é o meu prazer
Meu viver só tem sentido
Por você

Somos duas metades que se procuram
Que se completam
Que se atraem
Que precisam estar unidas
Por toda a eternidade
Desejo e saciedade.


EU

Já fui
E às vezes ainda sou
Menina encabulada
por tudo fico emburrada
Criança alvoroçada
Nas brincadeiras de calçada
Adolescente impertinente
Maçante, renitente.
Hippie alucinada
à toa, sem ligar pra nada
Curtidora de som
Garganta pouco afiada
de difícil tom
Destemida no amor
E nos mistérios do sexo
Dando cabeçadas
Fazendo coisas sem nexo
Jardineira, costureira.
Cozinheira, arrumadeira.
Faltou ser enfermeira e engenheira
E dificilmente serei
Doenças e matemática
Não fazem parte da minha tática
Amante, amiga, apaixonada.
Que se magoa por nada
Tristonha, deprê, desiludida.
Nos teus braços pedindo acolhida
Já fui, e às vezes ainda sou
Essa coisa meio perdida
Sedenta de amor e de vida.



FOME DE VOCÊ

Ah, se você chegasse agora
Certamente eu não iria olhar
Qual a hora
E iria te abraçar
Te cheirar, te acarinhar
Te morder e te ninar
Até me saciar.

Ah, se você viesse logo
Certamente eu nada iria dizer
apenas te morder
E querer te comer
Com a fúria de uma antropófaga

Primeiro a tua orelha.
O lóbulo tenro, molinho
Iria desfibrá-lo todinho
qual pássaro fazendo ninho.

Depois teu pescoço
longo, durinho
Tão cheio de osso.

Depois teu peitinho
pequenino, bonitinho.
Ia ficar só o furinho

Ah, e tua barriga
macia, comprida
Viraria uma grande ferida.

Descendo mais um pouquinho
Ao céu, ia encontrar o caminho
Mas não te comeria.
Aí a coisa se inverteria
A caça viraria caçador.

Ah! Meu amor!
Tudo não passa de devaneio
Por não te ver há tanto tempo
Que já ando assim
Doidinha e a fim
de te comer e de te querer
Pertinho de mim numa noite sem fim.

Dentrinho de mim
Você sendo eu, eu sendo você.
A gente se fundindo até se perder
Neste paraíso, que sem aviso
Nos leva pra terra do além
Da dormência, da indecência
Do amor, do não pudor.
Ah, se você chegasse agora meu amor!



por Alma do Beco | 3:30 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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