É como se as paredes respirassem e os cheiros misturados se sentissem e todas as palavras não calassem embora no silêncio se fundissem É como se o olhar soubesse o toque e o toque adivinhasse o que não visse mas visse no murmúrio o mesmo enfoque na imagem que se viu mas não se disse É como se a manhã não mais chegasse e o dia fosse noite todo o dia É como não querer que se acabasse o instante em cada instante que se adia e o teto fosse o chão e o chão o teto e toda a atmosfera fosse afeto É como se de pétalas chovesse o lustre mas tal chuva não caísse É como se o desejo percebesse aquilo que a razão não mais medisse É como se a pergunta respondesse e o ventre da resposta perguntasse É como não se ouvisse e compreendesse o mínimo cicio que faltasse É como se arranhasse e não ferisse e tudo o que sentisse, delicasse É como se dos poros se parisse a alma em cada gota que suasse e o gosto fosse o gosto de um só gosto e o fogo não soubesse de qual rosto E sem que se pedisse, se virasse e em forma de pirâmide se erguesse Uma mão que no espelho se agarrasse e a outra o travesseiro pertencesse e o beijo noutra boca deslizasse e enquanto esse subisse, essa descesse e a boca desse beijo se molhasse e o beijo nessa boca mais bebesse e o que não fosse beijo se encostasse e a boca mais ainda recebesse e o beijo no pescoço assemelhasse da boca que pulsasse a que gemesse e o mais só sussurrasse, sussurrasse e sem que se dormisse, mais sonhasse
Antoniel Campos