dei de amanhecer com as mãos
repletas de espinhos
floridos
e os olhos ardidos de auroras
vazios de palavras
vazias
Márcia Maia
AGOSTO SENTEI DE DESGOSTO PORQUE CHEGOU TRAZENDO
AGOURO A IMPRESSÃO DE QUE TUDO PASSOU E NADA FIZ
E NADA FICOU PORQUE NADA FICA A NÃO SER A OBRA O
CONHECIMENTO QUE É SOMA É FRAGMENTO E QUE TAMBÉM
PASSARÁ POIS QUE NÃO RESISTIRÁ AO TEMPO QUE TAMBÉM
PASSARÁ.
SOU TODO ABERTO COMO O MEU UNIVERSO COMO O
PRÓPRIO UNIVERSO QUE É COMPOSTO DO MEU DA ROSA DA
PALAVRA QUE DISSESTE CINCO ANOS ATRÁS ! COMO
POSSO SUSTENTAR QUE NÃO SOU LOUCO SE O UNIVERSO O
MEU O SEU O UNIVERSO É DESSE TAMANHO E CONTA A
EXPANSÃO A MINHA INCAPACIDADE EM TÊ-LO EM SÊ-LO
TOTAL ?
UNI-VOS
É SOMA É ESPERANÇA DE QUE POSSAMOS REALIZAR AQUILO
QUE SEQUER ACREDITAMOS MAS É ESPERANÇA DE
MUDANÇA QUE REALMENTE MUDARÁ PARA ATENUAR
NOSSA DOR.
UNI-VOS
VIRÁ O DIA QUE TEMO E QUE É DE LIBERDADE PARA A
MAIOR EXPANSÃO DO MEU UNIVERSO DO SER
DESESPERADO QUE SOU PERDIDO EM MEIO ÀS DIMENSÕES
FANTÁSTICAS DO MEU DO TODO UNIVERSO
UNI-VOS
OS FRAGMENTOS QUE O COMPÕEM SÃO TÃO IMENSOS
COMO O PRÓPRIO E SÃO VERDADEIRAMENTE O UNIVERSO
ABERTO EM EXPANSÃO.
UNI-VOS
VIREMOS A SER AQUILO QUE VIRÁ A SER PORQUE SOMOS
O QUE SOMOS E SOMOS VIR A SER.
UNI-VOS
SEJAMOS ! SEJAMOS ! SEJAMOS AQUILO QUE VIREMOS A SER ! SEJAMOS! SEJAMOS O QUE SOU O QUE ÉS O QUE É !
UNI-VOS
SEREMOS O QUE SOMOS SEREMOS A SOMA DOS NOSSOS FRAGMENTOS
Um brado às margens do Ipiranga
Léo Sodré, Clotilde Tavares, Hugo Macedo
O povo heróico, cujo brado retumbante foi ouvido um dia às margens plácidas do Ipiranga, anda cansado. Heróico, mas cansado, oprimido e estarrecido em meio aos escândalos que superaram o nonsense bigbrotheriano na TV, em meio ao custo de vida sempre crescente, aos impostos mais altos, e à violência das grandes cidades. O brado nem retumba mais: o que retumbam são os disparos nas madrugadas, nas cidades sitiadas pela violência. As margens também não são mais tão plácidas, porque os rios estão sendo assoreados pelo desmatamento ou mergulhados na lixívia da poluição. Quanto ao sol da liberdade, seus raios fúlgidos persistem em brilhar no céu da Pátria mas não para todos, uma vez que há muitos vivendo na escuridão dos casebres, favelas, cabeças-de-porcos e outros tipos de habitações sub-humanas.
Mas ainda te amamos, Pátria. E queremos que te salves, salve, salve!
Ah, Brasil! Do teu formoso céu, risonho e límpido, onde resplandece a imagem do Cruzeiro, desce à terra um sonho intenso, um raio vívido de amor e de esperança. És tão grande, tão enorme, de uma natureza tão rica e tão grandiosa, colosso impávido, tão belo, tão forte! Será que o teu futuro vai espelhar esta grandeza? Minha terra adorada, minha Pátria, gentil mãe dos filhos deste solo, meu Brasil... Será, Brasil, que estás te preparando para esse futuro, que deverá um dia espelhar tua grandeza? Será que já não permaneces há muito tempo deitado em berço esplêndido, ouvindo o marulhar das ondas e perdido na contemplação do céu profundo, fulgurando como verdadeiro florão da América iluminado ao sol do Novo Mundo?
Tuas terras não são mais tão garridas, invadidas pela grilagem e pela especulação, enquanto as flores dos teus campos foram calcadas pelos pés daqueles que não têm terra para nela morar e trabalhar. E onde está a vida dos nossos bosques, contrabandeada em gaiolas para o estrangeiro, que vive e registra nossos produtos como sendo deles, que se alimenta e enriquece às custas da apropriação da nossa biodiversidade? Nossa vida, que em teu seio deveria ser repleta de amores, está cada vez mais farta em suores e cansaço na labuta que nos fornece apenas o pão de cada dia, o duro catre para o repouso e uma existência sem perspectivas.
Mas continuamos te amando, Pátria idolatrada. Mesmo que seja cada vez mais difícil ver como símbolo de amor eterno tua bandeira, que ostentavas com orgulho cheia de estrelas, e o verde e ouro que prometia paz no futuro e glória no passado. Essa bandeira serve hoje de pano de fundo para as solenidades oficiais, onde figurões engravatados e desonestos simulam governar para o povo e em nome dele, mas fazem a clava forte da justiça se erguer apenas em defesa dos ricos e poderosos. Teus filhos estão quase sem energia e disposição para irem à luta, temerosos da morte e do esquecimento, cobertos de vergonha, e acham que a batalha não vale a pena pois estão certos de que estarão dando a vida por uma ficção, uma miragem, uma figura de linguagem.
Ah, terra adorada! Entre outras mil, és tu, Brasil? Ó Pátria amada, serás mesmo mãe gentil dos filhos deste solo? Pátria amada? Brasil?
Clotilde Tavares