Menino ainda, se fez engraxate pelas ruas do centro da cidade. Queria ajudar a família e garantir seu próprio sustento.
Não foi fácil enfrentar a selva urbana e a concorrência. Como ele, muitos meninos, apesar das dificuldades, tinham suas caixas de engraxate e delas faziam local de trabalho a céu aberto em qualquer esquina, qualquer mesa de bar.
Da infância difícil às convivências duvidosas de todo centro de cidade. Os envolvimentos, a droga.
Hoje, rapaz e cansado, despreocupadamente, puxa seu fuminho em praça pública, como se a fazer algo muito natural.
Flagrado pela polícia em meio aos tapas no fumo, a indagação do policial:
— Fumando maconha pra quê, negro sem-vergonha?
E a resposta fácil e imediata:
— Pra arriar a lombra nos sapatos!
Pra quê?
Ato contínuo, o coturno do policial desce sobre a caixa de trabalho do adolescente, espatifando-a.
As graxas explodiram agora imprestáveis. Só lhe sobraram as escovas.
E o desejo de começar tudo de novo.
Eduardo Alexandre