quinta-feira, abril 07, 2005

A ARMA DO CRIME




José Herôncio de Melo, funcionário público federal, chega a cidade do interior do Estado onde substituiria o titular da repartição. Encontra o colega em descrédito e sofrendo uma tremenda campanha contra si. Responsável pelo defloramento de moça da sociedade, a cidade em peso estava contra ele. Com todas as portas fechadas e a evidente certeza que, levado à júri, o resultado seria 7 X 0 pela sua condenação.

Ao saber que José Herôncio estava na cidade, o procurou como tábua de salvação, certo que o colega, embora não tendo conhecimento de Direito, poderia conduzir a defesa com a sua inteligência.

Formado o júri, o promotor, repetidamente, chamava o pobre rapaz de assassino. Assassino pra cá, assassino pra lá, abrindo os olhos de todos os componentes do júri para a necessidade de sua condenação. A insistência do promotor em chamar o rapaz de assassino e elemento indigno de pertencer a sociedade, acabou irritando Zerôncio, que, a certa altura, foi acometido daquilo que se chama estalo. E virando-se para o promotor, com indignação na voz, aparteou:

— Senhor promotor, Vossa Excelência, desde que chegou a esta casa, repetidamente chama meu constituinte de assassino. Poderia, o nobre colega da acusação, exibir a arma do crime ? Tenho certeza que o senhor não se negará ao meu pedido.

A princípio, os jurados, o público e até mesmo o promotor, não atinaram para aquele inusitado pedido de apresentação de armas. Só segundos depois, é que foram compreendendo a solicitação. E, aos poucos, foram rindo, rindo, e a gargalhar, depois de cutucar um ao outro compreendendo a esperteza de Zerôncio. Depois daí, o promotor não disse palavra, e o resultado é que o rapaz foi absolvido.

A moça e a sua família ficaram tão marcados com o incidente que, onde quer que fossem, todos lembravam do caso, provocando risadas irônicas a tal ponto que o clima da cidade ficou irrespirável. Tanto para a moça, como para toda a sua família.

Resultado: o pai, mortificado com o que estava se passando, só encontrou uma solução para o problema — transferir-se da cidade.


José Alexandre Garcia

por Alma do Beco | 12:10 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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