José Herôncio de Melo, funcionário público federal, chega a cidade do interior do Estado onde substituiria o titular da repartição. Encontra o colega em descrédito e sofrendo uma tremenda campanha contra si. Responsável pelo defloramento de moça da sociedade, a cidade em peso estava contra ele. Com todas as portas fechadas e a evidente certeza que, levado à júri, o resultado seria 7 X 0 pela sua condenação.
Ao saber que José Herôncio estava na cidade, o procurou como tábua de salvação, certo que o colega, embora não tendo conhecimento de Direito, poderia conduzir a defesa com a sua inteligência.
Formado o júri, o promotor, repetidamente, chamava o pobre rapaz de assassino. Assassino pra cá, assassino pra lá, abrindo os olhos de todos os componentes do júri para a necessidade de sua condenação. A insistência do promotor em chamar o rapaz de assassino e elemento indigno de pertencer a sociedade, acabou irritando Zerôncio, que, a certa altura, foi acometido daquilo que se chama estalo. E virando-se para o promotor, com indignação na voz, aparteou:
— Senhor promotor, Vossa Excelência, desde que chegou a esta casa, repetidamente chama meu constituinte de assassino. Poderia, o nobre colega da acusação, exibir a arma do crime ? Tenho certeza que o senhor não se negará ao meu pedido.
A princípio, os jurados, o público e até mesmo o promotor, não atinaram para aquele inusitado pedido de apresentação de armas. Só segundos depois, é que foram compreendendo a solicitação. E, aos poucos, foram rindo, rindo, e a gargalhar, depois de cutucar um ao outro compreendendo a esperteza de Zerôncio. Depois daí, o promotor não disse palavra, e o resultado é que o rapaz foi absolvido.
A moça e a sua família ficaram tão marcados com o incidente que, onde quer que fossem, todos lembravam do caso, provocando risadas irônicas a tal ponto que o clima da cidade ficou irrespirável. Tanto para a moça, como para toda a sua família.
Resultado: o pai, mortificado com o que estava se passando, só encontrou uma solução para o problema — transferir-se da cidade.
José Alexandre Garcia