quinta-feira, abril 07, 2005

ASTRAL FINALMENTE RECONHECIDO POETA DA CIDADE

fotógrafo?

A bela Su Sodré e o chato Dunga


A cidade estava que era um marasmo só. Nesse ano, nem comemoração ao Dia da Poesia houve. Com o intuito de manter a brincadeira, não deixar a peteca cair, os sebistas resolveram provocar fazendo uma lista dos chatos natalenses.

Tinha chato reitor, chato irmão, chato performático, chato jornalista, chato advogado, tinha chato para todos os gostos a lista da moçada: setenta, ao todo. Muito chato para uma chata cidade só.

Chatos poetas eram dois, que poesia que se preza merece reconhecimento dobrado. O chato Dunga e o chato Astral. Eduardo Alexandre e Carlos Frederico, respectivamente.

Eduardo ficou inconformado.

— Eduardo Alexandre até que vai. Esse é chato mesmo. Mas Dunga, e logo ao lado de Astral? É muito chata essa posição, me poupem! Reclamava indignado o poeta, há muito tempo afastado do movimento artístico, decepcionado que estava com a política cultural da província.

Carlos Frederico, no entanto, exultava. Finalmente fora reconhecido na condição de poeta, e, para ele, apesar da condição de chato, ser considerado poeta era o máximo. Afinal, todos, insistentemente lhe negavam o valor dos seus versos. Era tanto o seu contentamento que foi tirar Eduardo do seu recolhimento.

— Você viu, poeta, saiu no jornal o meu e o seu nome na lista de chatos da cidade?! Chatos poetas. O que é que você acha?

— Eu acharia melhor se só saísse um nome nessa lista, Astral. Respondeu-lhe Eduardo, visivelmente consternado. Você bem que poderia ficar com a exclusividade da honraria.

Satisfeito com a recusa, Carlos Frederico correu aos sebos para contar a novidade.

— Se Eduardo não aceita, então fico sozinho na lista. Argumentou, convicto de que a idéia seria bem aceita pelos promotores da brincadeira. Até que alguém explicou:

— Astral, você é tão chato que tinha mesmo era que figurar na nossa relação. Só não sabíamos em que tipo de chato a gente lhe enquadrava. Colocamos como poeta porque todo mundo em Natal é poeta, até você, mas se a lista já não tivesse sido impressa, até que poderíamos ter reservado para você o título de chato chato, mas esse já é de Carlos Gurgel. Que tal chato de galocha, que ainda não tem?

Astral saiu revoltado da conversa. O chato não lhe agradava, é bem verdade, mas perder o reconhecimento de ser poeta, isso nunca, desabafou no bar do Nazi, depois de três doses de cana.

— Chato poeta até que vai. Mas chato de galocha? Será que eu não sou poeta, poeta?

E tomou todas, receoso de ser excluído da lista.


Edgar Allan Pôla

por Alma do Beco | 11:21 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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