Márcia e Dunga em Dia Nacional da Poesia
Noite morna de domingo. A cidade adormecia enquanto, pela mão, ele me conduzia por desconhecidos caminhos de antigamente. E, dizendo seus nomes, como que os despertava. Rua da Palha, Igreja do Galo, Caminho de Buscar Água, Beco da Lama, Praça da Alegria. E o Grande Ponto, perguntei? Calma, ele disse, chegaremos lá. E me mostrou prédios antigos em estado de pré-decomposição. Espectros de antes. Janelas cegas. Fachadas desfiguradas. Contou-me histórias de ontem e de agora. Caminhemos, dizia. Caminhávamos. À Praça Kennedy, parou sorrindo. Veja, é ali o Grande Ponto. Não sei pôr em palavras o que senti. À medida que ele, calmamente, me explicava a história dos prédios e das gentes daquela esquina, algo mudava. Era como se as fachadas se modificassem. Pessoas surgissem sentadas à calçada. E um burburinho de vozes e risos, do nada, em meus ouvidos, se elevasse. E, conforme a noite avançava, era como se a Natal antiga despertasse e se me revelasse, conquistasse, incluísse. A mim, que viera de outro estado, que a ali não pertencia. E quando refizemos o caminho, de volta aos amigos, em cada canto uma face antiga nos sorria. Não sei se ele as viu. Eu nada disse. Sei que a mim, me acompanharam até a hora da partida. E que Natal nunca mais tornou a ser a mesma. Nem mesmo quando, tendo amanhecido, derramou-se, em versos e risos, celebrando mais um Dia da Poesia.
Márcia Maia