segunda-feira, março 21, 2005

Depois da enxurrada

águas de março

tanto faz se chuva fina
temporal ou mar
de lágrimas

Márcia Maia

Fernanda Tavares
Ora a luz ora a treva sem que avise-se. Márcia Maia

Mais um dia de águas de março.
A água da chuva escorre pela rua como se lavasse a cidade, levando impurezas e pecados.
Pecados em mim incrustados sem culpa ou remorso: fiz da vida o que bem quis e por escolha. Talvez por escola: em quantas Marilyn fiz-me espelho? Morri no desastre que levou Leila?
Ficaram os sutiãs queimados, os seios soltos, hoje caídos e a não mais despertar o desejo dos homens.
Ficaram posturas que sedimentaram-se e mostraram um ser mulher capaz. Especialmente capaz da ousadia de ser sem sonhos. Estes fizeram-se práticas cotidianas, doces, amargas, mas práticas sedimentadas em vida.
Hoje, não temo o vôo.

Minhas filhas, largo-as ao mundo sem medo ou remorso. Sei, sobreviverão sem a condição do corpo; sem marcas de entregas involuntárias.
A chuva que lava a alma da cidade leva a lama que não restou em meus escombros. Recolho de mim o passado medroso do futuro e me faço Amélia em fantasia para rir de um tempo de submissão ida: meus pecados, quero-os todos para mim.
Essa chuva? Ela passa como passaram os dias da lavagem.

Em mim, apenas ficou o cheiro da alfazema dos lençóis e a boca entreaberta para os amores que me farão nova como a velha calçada, agora limpa e pura, depois da enxurrada.

Neuza Margarida Nunes
Pipa, 21 de Março de 2005

por Alma do Beco | 7:44 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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