Eduardo Alexandre de Amorim Garcia*
A grande maioria dos que tomaram a Esplanada dos Ministérios naquele 1º de janeiro, quando Lula tomou posse da presidência da República, com certeza era de militantes sindicais, sem teto, sem terra, egressos dos movimentos sociais e militantes de PT, PCdoB. Sem dúvida, foi uma bela festa de civilização e civismo.
Agora, quase um mês após a posse, é bom lembrar: aquela imensa maioria ali presente era gente que pregou a reação ao neoliberalismo e todos os males sociais que advêm de sua prática. Uma gente que organizou manifestações, levou borrachada da polícia, empenhou corpo e espírito numa luta que levou anos.
Todos sabemos que, no governo, Lula não vai fazer revolução nem implantar o socialismo no Brasil. Mas, nós, que votamos nele, que fizemos as lutas da então oposição brasileira, não podemos deixar de cobrar do presidente e de seu partido uma linha de ação que combata as injustiças sociais e a fome que o presidente diz querer ver eliminada.
Para eliminar a fome, não bastam o prato de comida, a cesta básica, o tíquete alimentação. Isso, os partidos que elegeram o novo governo já haviam diagnosticado. Para eliminar a fome, é preciso eliminar as causas que provocam a miséria, a sangria econômica, o fosso entre os miseráveis e os que têm em excesso.
A esperança do povo brasileiro venceu não o medo de Regina, mas toda uma política velha em prática no Brasil e no mundo. As causas da pobreza, o PT conhece bem, e sabe que a principal delas é a dependência a uma dívida não contraída pelos que sofrem.
Em Davos, Lula deve dizer ao mundo que o Brasil clama por uma nova ordem. Que o mundo não pode ficar esperando por desastres maiores, como o da Argentina, se políticas de ordem econômica não forem alteradas. Foi para deixar esse recado que a grande maioria dos ali presentes, na posse, deixaram evidente para outros povos: a partir daquele momento, o mundo teria um novo líder a clamar contra as injustiças do mundo e fazer-se ao lado dos menos favorecidos.
Que Lula não nos decepcione e jogue contra os poderosos com toda a força que o povo lhe conferiu.
Aquelas cenas, decerto, não ficaram só na retina e alma dos brasileiros, mas extrapolaram fronteiras, enchendo de orgulho e esperança a todos os que, um dia, sonharam, em qualquer país, ser possível um mundo melhor, sem vassalos e senhores, como impõe a ordem atual.
Que o nosso Lula comece a mostrar a que veio.
*Jornalista
Natal/RN
23 de Janeiro de 2003