Se a esquiva é o desvão do fingimento,
o silêncio sugere o sim e o não.
Se a lembrança prepara o esquecimento,
cada verso que escrevo é sem razão.
Muito mal representa este momento;
o passado e o futuro, pouco então.
A distância do verbo ao pensamento
é-me acima a do claro à escuridão.
Já não sei o porquê do movimento
que se dá entre a pauta e a minha mão.
Se há gozo, confundo com o tormento
—duas faces da mesma sensação—.
Um poema não diz meu sentimento,
cada verso que escrevo é sem razão.
Antoniel Campos