(Ou A Peleja com os nós do destino)
Dedicado à energia negativa do cosmo
entre dentes pútridos e hálito sulfurado
Verte-se em gotas cinzas
sobre a areia branca que fugiu do mar
Circula, entre grãos tão claros, tão santos
transmuta-se em pedra contusa, perfurante
A rolar entre meus pés, nunca a esmo
E sob a minha nascida resistência
Quer furtar aquilo e aquele
que por décadas
o destino ou o acaso, firmemente encarcerou
Tomo a pulso o direito a mim outrora negado
de dissolver tuas podres pedras
afiadas e envenenadas, traiçoeiras e determinadas
nem que para isso tenha
minha vida por ti, enfim, abreviada
Consciência, ilusão, intuição, não importa
O que sinto é tua infecta existência,
tua alma em gangrena, viva-morta
Não preciso mais de ti, não te quero, nem te espero
Não te dou o que comer, não te visto, não te beijo
Nem nas noites escuras te desejo
Fico em pé, já não me deito
Da tua sombra não tenho medo
Sem lágrimas, sem enfado, sem tremores
Olho tua cara, limpo teus vômitos
Falo-te horrores
E digo-te nuvem desgraçada, que para mim,
não és mais nada!
Meire Gomes