segunda-feira, janeiro 31, 2005

A debandada dos miasmas

A debandada dos miasmas

Tomo a pulso o direito a mim outrora negado. Meire Gomes

Levastes de mim apenas dias perdidos. Esses, esqueci-os em gavetas emperradas por ferrugem sedimentada. Coloquei-os em fornalhas de infernos consumidos. Não os quero nem por lembrança.
Refeita, respiro ares que não me trazem saudades. Sou nova em novas vestes. Sou outra.
Liberta por decisão minha e unânime de mim, sou acalanto suave sussurrado entre brumas fecundadas. Aspiro auroras a toda hora e as tenho comigo a todo instante. Estou eu. Em mim me fiz por condução da carne.
Entre o ser e o permanecer, busquei a distância e o amanhecer de mim. Fiz-me eu: aprendi que montanhas se desfazem ao vento.
Rezei por ti e pedi por mim. Lavei promessas em caldos santos.
Entre dedos fechados, fiz do meu pulso impulso: a liberdade nunca chega se não chamada.
Adentro rios inexplorados. Descubro horizontes onde a vista se perdeu. Ajo ao sabor de interiores meus: sou fado; sou tango a não mais soluçar travas de cotidianos perdidos: fiz-me eu.
O que outrora me foi negado, nem preciso como lembrança: as asas da memória pulam muros e me encontram em tempos repletos de rebeldia, quando o ser ousava serventias para si, ainda semente em busca de água.
Estou em mim, de volta. Dou voltas aceleradas aos passados que me fizeram morta e não os vejo: naufragaram na superfície ácida que o instante dissolveu.
A mim, hoje, tudo é possível. Visto-me artesã e moldo sandálias andarilhas. Jogo serpentinas ao mar e confetes ao reencontro comigo mesma. Fantasio futuros próximos e distantes; busco tintas amarelas para os dias saciados de azuis.
Sim: digiro fantasias.
Agora, como eu, não me acompanham planos de alforria: os miasmas em volta partiram em pânico.

Neuza Margarida Nunes
26 de Janeiro de 2005
Contemplando crustáceos à beira do mangue

por Alma do Beco | 12:20 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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