Fernando Bezerril
Secretário de Comércio e Turismo da Prefeitura Municipal do Natal
“O turismo só é bom quando ele primeiro é bom para quem mora na cidade”.
O Beco – Sabemos que você está assumindo a SECTUR agora, mas, com relação ao centro Histórico, com relação à boemia de Natal, revitalização do centro, cultura recebendo turismo, já existe algum projeto definido pela Secretaria de Turismo?
Fernando Bezerril – O natalense, mesmo sem ocupar nenhum cargo, é como o brasileiro torcedor de futebol: todo mundo é um técnico e tem uma opinião boa acerca disso. Hoje, estando secretário, nós não imaginamos o turismo dissociado da cultura. E a primeira coisa que nós fizemos foi convidar o colega Dácio Galvão, presidente da Capitania das Artes, que é uma pessoa importante para a cultura do Estado, para indicar uma pessoa da cultura para fazer parte da nossa diretoria. Você sabe que quando a gente ocupa cargo público, os cargos são muito poucos, mas pela importância que é a cultura, nós ousamos solicitar uma pessoa indicada por Dácio para fazer parte da nossa mesa diária de trabalho: chama-se Yuno Silva, que é uma pessoa da cultura, é um colega de vocês, um jornalista, jovem brilhante que tem muito acrescentado nisso, e nós não conseguimos entender porque o turismo de Natal, do Rio Grande do Norte, crescendo como cresceu.
Nós já estamos no quarto mês do ano, e estamos com um crescimento, só a nível internacional, de 30%. Sabendo que o turismo internacional, o nacional, que é o que mantém o ponto de equilíbrio – o paulista é o primeiro e o segundo (capital e interior) pólo emissor mais importante pra gente – e o europeu que descobriu Natal agora, o americano que chegou agora via American Air Lines.
Dia 29, veio a Natal o mais importante diretor da American Air Lines, Dilson Verdoza, veio aqui porque eu disse a ele que a gente tinha uma proposta dos americanos, que são 50 mil que estiveram na guerra aqui e hoje a metade desses ainda estão vivos e então podíamos trazer a Natal os que hoje são generais e os que viraram empresários, e podíamos alavancar o fluxo turístico, porque Natal tem história para contar. Ele achou maravilhoso. Pegou um avião, no outro dia estava aqui, passou quatro dias com a gente.
Eu botei esse cara na garupa do meu cavalo, andei tudo que tinha direito, inclusive mostrando a ele que Natal não era só sol e praia; que Natal tinha um acervo cultural grande e tinha também empresas importantes, exportadoras de atum, que a nossa terra era a maior do Brasil em exportação de camarão de qualidade, concorrendo no primeiro mundo com o americano, com toda a Ásia, que, coitados, tiveram esse problema agora, e que os porões dos aviões da American Air Lines, que voam sete aviões por dia para São Paulo, não chega nem um no Nordeste e que podia ter Natal, geograficamente falando, tava ali, todo europeu, e eles iam chegar depois por quê? E ele disse:
- Fernando, casou certinho o que a gente estava pensando com o que você acendeu a luz aqui.
E eu fiquei feliz porque a gente tem o atum, o peixe, o camarão, a lagosta, a gente tem o melão, a gente tem o que eles não têm para encher os porões e eles têm o passageiro.
Nós temos poesia, cultura, e essa história do americano é cultura. Trazer para cá um fantour e esse fantour seria o quê? Um grupo de dezoito pessoas onde nove seriam ex-combatentes americanos e nove seriam jornalistas e um ou dois operadores que depois iriam vender o produto da gente: venham para Natal.
Levei-o ao Infraero. Mostramos a capacidade nossa de exportação, mecânica de transportar sem dificuldades. Pouca gente de Natal sabe a ferramenta que existe disponível no Aeroporto de Natal. É uma coisa belíssima. Ele que viaja o ano inteiro e conhece o mundo inteiro ficou encantado com o potencial existente, pronto, disponível. Tem uma câmara frigorífica lá de 30 toneladas, totalmente disponível, esteiras rolantes e capacidade de carga do jeito que a gente precisa. Eu me sinto feliz de estar fazendo isso.
O Beco – Como agente transformador da sociedade, o turismo no Rio Grande do Norte é de extrema importância. Como você vê a parte da preservação do centro histórico para o desenvolvimento do turismo aqui em Natal?
Fernando Bezerril – Eu vejo com preocupação, porque a gente sabe que não existe definida ainda uma linha de como isso será a curto, a médio e a longo prazo. Mas nós sabemos que hoje o presidente da Fundação José Augusto, François Silvestre, que é extremamente competente, e o presidente da Capitania das Artes, Dácio Galvão, e o fruto desses trabalhos que estão sendo rodados em mesas, em parcerias com as universidades, juntamente com as nossas secretarias, com certeza, irá sair o melhor.
O turismo de Natal cresceu sem mostrar
o lado talvez mais importante que é nossa cultura
O Beco – Como a Sectur pensa encaixar a cultura recebendo o turismo?
Fernando Bezerril – Ela está pensando com muita responsabilidade. Ela está consciente de que o turista que aqui esteve durante o decorrer de todo esse tempo, ele viu sol e mar. E não conheceu, não teve oportunidade de conhecer o lado cultural. Olha que o turismo de Natal cresceu desse jeito, sem mostrar o lado talvez mais importante que é nossa cultura, mas que o desabrochar dessas idéias dessas secretarias irá complementar isso com muita competência.
O Beco – Como a secretaria encara a parte do turismo gastronômico? Veja que o RN tem uma culinária maravilhosa e isso nunca foi explorado. Como a Secretaria poderia inserir o paladar como fonte de atração para quem nos visita?
Fernando Bezerril – Eu tenho uma pesquisa recente sobre isso muito interessante. Existe uma empresa de pesquisa que é a Perfil, e ela nos deu, de graça, essa informação. Todos nós sabemos que Natal era um dia desses a terra da carne de sol. Você falava em qualquer cidade do Nordeste: carne de sol, Natal. Ótimo! Maravilhosa! Melhor que nenhuma outra. Já morreram seu Lira e seu Marinho, mas seus alunos ficaram. E Fernando, da Perfil, me disse:
- Olhe, Bezerril, aquela pesquisa que você quer fazer do símbolo de Natal, vou lhe dar de graça. Hoje, Natal, na gastronomia, é a terra do camarão. Até mesmo porque potiguar quer dizer comedor de camarão. Eu não sei porque essa coisa não veio antes!
O Beco – Temos notado que Natal tornou-se uma cidade de carnavais fora de época. Antes do carnaval, aqui, tem tudo. No carnaval, nada. Hoje, existe uma tendência de prévias carnavalescas no entorno do Beco da Lama e elas estão acontecendo ali. Não seria interessante uma tentativa da Sectur de resgatar os velhos carnavais natalenses?
Fernando Bezerril – Eu acho interessante que as duas coisas aconteçam. Primeiro, porque o Carnatal nada mais foi que uma cópia das micaretas baianas e achamos que devemos copiar o que está dando certo e quem é competente. Eu sou um copiador da Bahia e do Ceará. Inclusive, na nossa diretoria aqui, o doutor Paulo Nunes esteve recentemente em Salvador, sem nenhum problema de perguntar o que vocês têm de bom que a gente quer conhecer para aprender. E nós entendemos que o Carnatal veio para antecipar a temporada, porque nós tínhamos mil idéias de fazer em dezembro o Natal em Natal, eu menino, me lembro, empresários querendo fazer o Natal em Natal e até hoje não foi feito esse negócio. Mas aí, a Destaque Promoções, com muita ousadia, foi na Bahia, copiou, trouxe para Natal, e fez um carnaval fora de época pequeno, o primeiro, e hoje é o maior do Brasil. A hotelaria de Natal, em dezembro, já não tem mais problema porque o Carnatal resolveu.
Quanto ao carnaval, existe o carnaval pernambucano, incomparável; existe o carnaval baiano, que é exatamente o máximo, e existe o carnaval de Natal que é um carnaval mais voltado para o povo da cidade, para o social, que eu acho que tem de existir. Acho que devia ter algumas modificações. Concentrar a coisa a nível de Zona Norte porque a Zona Norte é a metade de Natal, é Natal mesmo, e a nível de centro da cidade. Devemos ter dois carnavais, porque tudo que pensarmos para Natal devemos ver que a Zona Norte é uma Natal importante. Devemos ter dois carnavais e duas festas de São João. Estamos bem casadinhos com a Capitania das Artes que tem muito mais competência do que a Sectur para fazer São João, para fazer carnaval. A Capitania terá o apoio da gente porque o turismo tem que ir buscar turista para Natal, cuidar da cidade para receber e, em parceria com a Capitania, fazer belos e antigos carnavais.
O Beco – Se você pudesse hoje, sem dificuldade nenhuma, botar em prática um projeto para o turismo e para a cultura da cidade, o que você faria?
Fernando Bezerril – O meu sonho é consolidar mais o turismo de nossa região, sem nunca esquecer que o turismo só é bom quando ele primeiro é bom para quem mora na cidade, para depois ser bom para o turista.